Ser Pensante

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"Todo homem honesto deveria tornar-se filósofo, sem se vangloriar em sê-lo." Voltairé

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O chaveiro da Casa sem portas - Parte 1



Possivelmente não teria chegado a conhecer a arte do impressionismo se não fosse por seu nome. Nome este graciosamente cedido por seu pai, que nada conhecia de arte além das músicas tidas como cafonas pelos ditos mais cultos. Para ele aquilo era a própria arte. Aliás, de artista o pai de Vincent dizia ter muito. Vincent cresceu e se apequenou ouvindo as canções do pai, que ele mesmo não acreditava ser de grande importância, mas que, por serem cantadas pelo homem que lhe aguçava os ouvidos ao falar das coisas simples da vida, se tornavam se não belas, (ou ao menos suportáveis). Delas e de seu pai Vincent tirou a inspiração para começar a pensar no que seria inspiração. Aliás, o próprio Vincent começou a assim pensar exatamente por perguntar a si mesmo se para respirar era necessário ter algum tipo de inspiração. Inspiração, respiração, inspiração, respiração. E nesse desencontro, se encontram todas as suas presentes dúvidas, e por que não dizer, as futuras também.

O garoto (que nunca foi garoto) chegou a certas conclusões na adolescência que não teve. Chegou a pensar que pensar não faria sentido algum, mas quando se viu pensando desta forma, as coisas já não faziam sentido há algum tempo. Ora, se falarmos só de Vincent não entenderemos o que de fato é Vincent, nem o que ele poderá vir a ser, muito menos o que ele quer ser. E, entendendo um pouco o que é e o que pode ser Vincent, quem sabe poderemos entender quem somos também. A história é um misto de eu com tu e de nós com eles. Mas, quase tudo que perdura os passos de Vincent, em meio às suas inspirações e respirações, têm um pouco a ver conosco. Seu pai, como já dito antes, só conhecia uma arte e só dela gostava: a da cafonice.

- Brega? O que é isso? Isso é bom ou ruim? Se o que ouço e gorjeio é isto que chamam de ‘brega”,  esse tal de “brega’ só pode ser algo excepcional!!!

É. A modéstia quase sempre esteve longe do pai de Vincent. Principalmente quando se tratava de música, um pouco mais quando se tratava de política e muitíssimo mais quando se pretendia dizer qualquer coisa relacionada ás suas crenças. Nesse contexto, Martinho, homem simples como boa parte dos homens interioranos que com ele pularam da infância à embriaguez da fase adulta em questão de meses, fez questão de ensinar ao filho que arte, fé e política eram algo que até poderia vir a ser interessante de se discutir, desde que o esperneio todo do debate não mudasse  a sua opinião sobre qualquer um dos assuntos. A coisa toda se tornaria ainda mais atrativa se o opositor da conversa referida se estrebuchasse e mudasse de opinião, ou desistisse de prosseguir com seu intuito em tentar dialogar sobre o referido ponto de vista entre qualquer dos assuntos citados acima. Vincent, que nunca foi criança nem adulto, achou isso bem esquisito desde o principio. Na verdade, ele chegou à conclusão de que tudo era bem insólito desde o princípio do princípio, sendo que o próprio princípio nunca foi lá muito claro. E isto, nunca chegou ao fim.

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