Ser Pensante
sábado, 29 de novembro de 2014
Porta aberta com Chaves
Abre-se a porta para Chaves
Alguém o recebe
O senhor é Zeus?
Sou Deus
E o que eu disse?
Zeus
E como é ?
Deus
E o que eu disse?
Entra logo Chavinho
O céu é seu barril
E a eternidade a sua vila
As nuvens o seu algodão doce
E as saudades dos que ficam
O seu sanduíche
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Davi
terça-feira, 18 de novembro de 2014
Vivo-morto
Cole
Eu também costumo ouvir
Gente que ninguém vê
Que acabou de morrer
Que vaga por aí
Procurando atenção
Sendo os olhos e ouvidos do outro
O seu único caminho
Cole
Eu também vejo e ouço gente morta
Que a mesma sociedade que mata
Insiste em afirmar
Que vive
E, com muito empenho
Vence
Cole
Só o vivo que se faz morto
E o morto que deseja viver
Podem se entender
Vivo!
Morto!
Morto!
Vivo!
Eu também quero brincar
De ver, ser visto
Ouvir, falar
Estar por baixo
E de pé ficar
Para que vivo
O mundo possa me amar
E morto
Possa outro ressucitar
domingo, 16 de novembro de 2014
Contos
Certa feita, um poeta renomado, considerado um mestre da arte do pensar, que além de tudo traduzia textos, falava muitos idiomas, pintava muitos quadros, que ganhou muitos prêmios, resolveu isolar-se da fama. Muitos, quase todos mas nunca todos, o procuravam para ouvir o que ele tinha a dizer sobre uma grande quantidade de assuntos, quase de todo tipo mas nunca todos, que pudessem estar a mesa. Sua palavra era decisiva e redentora para muitos. Poucos a entendiam. Sobre um simples tomar de vinho do guia, tomavam suas decisões.
Em uma determinada noite, resolveu o sábio poeta isolar-se de tudo. Exilou-se. Criou a sua ilha. Isolou-se de quase tudo. Subiu as montanhas e foi ter única e exclusivamente com o vento. Mas, passou a notar que até ali, havia alguém além dos pássaros e dos insetos a lhe observar. Certa feita, ele convidou o jovem que estava a lhe observar a dias para entrar e indagou:
- O que buscas em mim?
- O que buscas em mim?
O jovem disse:
- Quero apenas beber da sua água, dizer o que não dizia, como tu, meu admirado poeta a segundos, em si mesmo, fazia.
- Quero apenas beber da sua água, dizer o que não dizia, como tu, meu admirado poeta a segundos, em si mesmo, fazia.
O mestre pediu que ele se sentasse e se pôs a discursar, a falar por todo o tipo de parábola, usando toda a espécie de metáforas.
Ao final, o sábio mestre, acabara seu sermão ressaltando:
- È preciso olhar ao seu redor e deixar a sabedoria fluir. Ouvir, ver, sentir, perceber-se, e afirmar o que há, houve e poderá vir a existir disso tudo que contemplastes. A ti bastas a contemplação.
O mestre soltou um brado!
- Ouvistes?
O jovem atônito:
O mestre soltou um brado!
- Ouvistes?
O jovem atônito:
- O que?
O metre gritou novamente, esbravejando, inconformado...
- Ouvistes?????!
O garoto, zonzo, acreditando ter desperdiçado um grande ensinamento proferido ali, temente, também esbravejou num surto de agonia:
- O que ???!!!!
Respondeu o mestre:
O metre gritou novamente, esbravejando, inconformado...
- Ouvistes?????!
O garoto, zonzo, acreditando ter desperdiçado um grande ensinamento proferido ali, temente, também esbravejou num surto de agonia:
- O que ???!!!!
Respondeu o mestre:
- Um pum.
- O que?
- Ouvistes? Ou vistes?
- O que?
- Um pum!
E disso nasceu mais uma poderosa poesia do mestre, um grande ensinamento, que se tornou uma grande canção, que foi gravada, que foi às rádios, mas que nem o jovem que tanto admirava a sua sabedoria, nem os que leram a sua poesia, nem os que ouviram a sua canção, puderam entender.
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
Raros
terça-feira, 11 de novembro de 2014
O diplomático latrocínio do eu
A minha liberdade quase nunca é diplomática.
Não se pauta sobre os sonhos que querem me vender.
Eu compro apenas o que produzo e produzo para não vender.
Não sou e não crio mercadorias.
Não há como sonhar sobre sonhos impostos, pois tarifas não são sonhos, mas pesadelos.
O pesadelo é o roubo da subjetividade humana, entendida como aquilo que não é adquirido em um mercado, com um primeiro salário.
Conseguem roubar até a única coisa que é nossa: o eu.
Não há como ser diplomático quando até esta liberdade é atingida.
Esta liberdade que é a única na verdade.
Não seriam os diplomáticos estes ladrões?
Não seria a hipocrisia social imposta sobre o indivíduo a universidade perniciosa a diplomar, especializar, mestrear, doutorar e pós-doutorar estes ladrões?
Tornando-se mestres nesta arte, roubam e depois matam. Ou roubam e matam ao mesmo tempo?
Seria um diplomático latrocínio do eu?
Ficam aqui os questionamentos de uhomem quase livre.
O dia em que o carteiro chorou
Era mais um dia como tantos outros. Acordar cedo, pegar o busão lotado, seguir a rotina e voltar cansado. Mais do mesmo. Mas como disse anteriormente, apenas era. A noite anterior já dizia que o dia seguinte seria diferente. Foi nesta noite que o decidi baixar o cd ao vivo dos pais do rap nacional Racionais MC's, gravado na Zona Leste de Sampa. E, essa noite, merecia uma data para comemoração de aniversário, pois nela nasceu um novo homem para o mundo, que teria mais armas ideológicas e espirituais para lutar por um mundo novo para os homens.
Racionais MC's não era novo pra mim. Lembro-me muito bem que na sexta série, lá pros meus 11, 12 anos, a professora Arlete de Português havia levado a letra de "Diário de um Detento" para discutirmos em sala (essa professora não faz ideia do que ela criou a partir desta iniciativa). Além desta experiência extremamente significativa no âmbito escolar, existem ainda as inúmeras ocasiões em que me deparava com alguém, dentro dos meus círculos sociais da adolescência, ouvindo o sagrado som do grupo, fosse na fogueria acessa de madrugada na rua em frente a casa que meus pais moram ainda hoje, fosse no celular de alguém na volta da escola para a casa, fosse no toca fitas/cd do carro de outra pessoa da área, fato é que eles sempre estiveram comigo. Anos depois, crescido, com 24 anos de idade, recém formado no curso de História, me preparando para deixar os Correios e começar a lecionar, passei a dar mais atenção ao som do grupo e seu potencial revolucionário. Decidi que era preciso especializar-me no som dos caras. Pensei: nada melhor que baixar os discos e ir ouvindo no caminho pro trampo. E, de fato, não havia nada melhor.
Sete e meia da matina do dia seguinte e lá estou eu, subindo pela porta de trás com a gentileza dos motoristas de sempre no segundo buso que eu pegava no dia para chegar até o Centro de Distribuição Domiciliar dos Correios. Assim que subi no ônibus, em pé, lá nu fundo, com o meu jaco de carteiro e a touca para cobrir as pequenas orelhas no dia frio, cobri os ouvidos com um manto: o som dos Racionais MC's. Começa aí a história.
O som começou a rolar e a gritaria total, monstruosa. Eram os caras entrando no palco. Dava até pra imaginar a cena, mas me preocupei mais em fechar os olhos e sentir a energia. Logo, vieram as ideias:
- Caraca, isso é o povo! A força do povo! A voz de um povo unificado, em gritos, dores e satisfação! Isso é Louco demais truta!
Daí pra frente foi curtir a letra. A música era "Fórmula Mágica da Paz".
Coincidentemente ou não, pouco tento antes, eu havia conhecido o fantástico russo Liev Tolstói, que foi um homem absolutamente digno de honra. Pacifista, seguidor do Cristo, homem que influenciou Gandhi em suas lutas e que decidiu abrir mão de toda a riqueza que tinha para estar entre os camponeses (classe absurdamente pobre e miserável da Rússia de seus dias). Naqueles dias eu estava a ler o tratado pacifista de Tolstoi intitulado "O Reino de Deus está em vós", um dos livros que mais tocou o meu ser. Nesta obra Tolstoi defende muitas ideias, dentre elas, a de uma nova sociedade, que respeitasse mais a natureza e estivesse mais próximo dela. Ele não só pregou isto como agiu desta forma. O livro e a música se misturaram, e a minha mente e alma se dissolveram quando ao final da canção, sobre o silêncio brusco do público em meios aos gritos anteriores, surge a voz de Brown e a profecia:
"Zona Leste, não se aproxime desse cotidiano de violência porque essa vida não foi feita pra você rapaz. Você foi feito pra correr nos campos, andar entre crianças,cachorros, velhos,flores, natureza, rios, água limpa pra beber rapaz. Essa foi a vida que Deus fez pra você. Mas o ser humano é ambicioso, eles estragou tudo.
Vamo que vamo! Esse é o caos, esse é o mundo que você convive hoje, certo? Século XXI, com a geração do Século XXI, e o que você vai fazer pra mudar, cruzar os braços e reclamar, ou você vai ser a revolução em pessoa? Acredito em você Zona Leste, acredito em você periferia!
Procure a sua, eu vou atrás da minha Fórmula Mágica da paz!" *
Naquele momento, olhando todo o mundo ao meu redor, as pessoas que cresceram no mesmo bairro que eu, o ônibus lotado, todas as nossas dificuldades, o que eram os bairros em que eu havia trabalhado (praticamente todos os periféricos da Zona Norte de São Paulo), não me restou nada além das lágrimas e de uma força arrebatadora que vinha sobre mim naquele momento.
Teria eu ali alcançado o Nirvana? Sentido a presença do Espírito Santo? Recebido alguma entidade? Bom, não tenho as respostas. O fato é que tudo a minha volta era nada e esse nada tudo ao mesmo tempo.
Apenas lágrimas sobre a fala de Brown, os escritos de Liev e a realidade do povo a nossa volta.
O restante do dia que seria exatamente igual, foi diferente, e os dias diferentes se multiplicaram a partir deste.
*Discurso que desde então passei a usar em todas escolas em que lecionei, substituindo "Zona Leste" por "Zona Norte". Muitos sentemo peso da fala como eu senti, e que assim seja por todo o sempre. Que Deus abençoe o Brown.
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Soldado Cândido
terça-feira, 4 de novembro de 2014
A Reforma do novo mais do mesmo
Entender a máquina que transforma os homens
em máquinas. Árdua tarefa. Parar em um ponto de ônibus sobre uma forte chuva,
observar as pessoas a sua volta. O jeito, a forma como olham, as palavras que
pronunciam e os assuntos que valorizam em seus diálogos, cada cena do
espetáculo remonta a um paradigma. Algumas obras, algumas mentes se predispõem
a fazer mais do que apenas reproduzir a máquina que são dentro da Grande
Máquina que os formou. Querem compreender se de fato são máquinas, se rebelar
contra a Máquina Mãe que os pariu , renegando assim a sua casta, o seu cálice.
Dentre alguns destes homens, me deparei Leo Huberman. Sua obra “História da riqueza
do homem” tem exatamente esta pitada de rebeldia frente a Grande Máquina, e
impulsiona no que degusta suas palavras uma cumplicidade para com o sentimento
que elas elucidam.
O sentimento que em mim já habita há muito
tempo, essa profissão de fé sob a contracultura, esse abraço insano na espera
do porvir sob o caótico conceito de temporalidade, se potencializou ao ler as
argumentações de Huberman sobre o tempo e as diferentes predisposições humanas
ao longo do mesmo. Confesso (e nem precisaria confessar o que já se faz
evidente em meus gritos) que as observações feitas por Huberman e a luz que ele
trás aos assuntos “Igreja Evangélica” (exemplificado no trato de “Reforma
Protestante”) e “Transição do Feudalismo para o Capitalismo” me despertam maior
ímpeto para a rebeldia, pois guiam o focinho do cão até o osso, dando sentido
ao forte odor que sentia, conduzindo seu olfato até o que oferece prazer ao seu
paladar da inconformidade. Eis aí posta uma porta sobre o social, e com as
palavras deste historiador, muitas chaves.
Lutero, a figura amada e preterida por
muitos oradores e homens de influência na chamada era pós-moderna, tido como
homem radical, é aqui evidenciado como responsável por muito do que é nossa
catastrófica atmosfera xenófoba, elitista, machista, racista e classista. Eu
cansei de respirar deste ar, e quero trabalhar com outros mágicos para que a
respiração de muitos seja mais prazerosa do que a presente. O porquê digo o que digo? O porquê ensaio uma
ofensiva contra Lutero? O que este homem fez para ser responsabilizado pelo
massivo processo de zumbificação contemporâneo? Ofereço a sequência com as
devidas respostas.
Segundo Huberman, gritavam os camponeses
revoltosos com a miséria que todos os dias os castigava imposta pela igreja,
pela passada Peste Negra e por todas as mudanças econômicas dos séculos XIV, XV
e XVI, afim de se não se libertarem, ao menos aliviarem a sua dor:
“Cristo
fez livres todos os homens.”[1]
Em algum lugar, ressoava o grito do Cristo,
passado mais que presente, se sobrepondo a céus e Terra como havia prometido:
“E conhecereis a verdade, e a verdade
vos libertará.”[2]
Não contente, continuava Cristo a empurrar os camponeses do medievo a sua luta. Mostrava-se a favor dos oprimidos, contra a opressão e intolerante para com a mentira sobre suas palavras. De maneira simples, singela e sutil, se posicionou:
“Bem-aventurados os que têm fome e sede
de justiça, porque eles serão fartos.”[3]
Mas Lutero, o radical, o admirado, o
revolucionário, o seguidor do bom Cristo, o Reformador da casa que estava
prestes a desabar, sentenciou:
“Deus prefere que existam os governos,
por piores que sejam, do que permitir à ralé que se amotine, por mais razão que
tenha. Aquele que mata um rebelde faz o que é certo. Portanto, todos os que
puderem devem punir, estrangular ou apunhalar, secreta ou publicamente. Os que
perecerem nessa luta devem realmente ser considerados felizes, pois nenhuma
morte mais nobre poderia ocorrer a ninguém. Estarei sempre ao lado dos que
condenam a rebelião e contra os que a provocam.”[4]
Acho que as respostas a todas as indagações
anteriores sobre Lutero e seus filhos, sobre a fala do exemplar Pai da família
cristã tradicional, foram postas sobre a mesa. Desfrute. Mas, ainda assim,
gostaria de especificar ainda mais a razão pela qual vejo neste homem, nas suas
posturas e nas suas falas, o entendimento de grande parte do que é a sociedade
hoje, especificamente a brasileira, da qual faço parte, ainda que eu não me
identifique com nenhum tipo de patriotismo ou nacionalismo.
O historiador que uso aqui como base para as
proposições que levanto indica o período vivido por Lutero, já conhecido por
todos, e o período anterior ao mesmo e a sua Reforma, tão conhecido quanto, mas
pouco evidenciado. A corrupção da Igreja e seus efeitos sobre a sociedade são
objetos de muitos estudos sobre o medievo e também de todo o tipo de fala
anti-cristã (e longe de mim excluir a razão de tais falas, ainda que goste
muito do termo cristão), e muito antes de Lutero, outros já estavam a
denunciá-las. Seriam outros radicais ou ainda, de fato, teriam existido homens
de fato radicais quanto a sua crítica a Igreja? Observe o trecho que segue:
“Os primeiros reformadores religiosos, ao
contrário de Lutero, Calvino e Knox, cometeram o erro de tentar reformar mais do que a religião.
Wycliffe fora, na Inglaterra, o líder
espiritual da Revolta Camponesa, e
Hus, na Boêmia, não só protestara contra Roma, como também inspirara um
movimento camponês de caráter comunista,
ameaçando o poder e os privilégios da nobreza.” [5]
Antes que me acusem de generalizações. Antes
que me chamem de bolivariano da fé, de deturpador da mensagem do cristo e de
aproveitador marxista, peço que examinem o mundo em que vivem. Peço que
observem as programações ditas cristãs e nascidas da Reforma Protestante em
seus televisores, que leiam os comentários de rodapé de muitos desses chamados “pastores”
sobre os textos bíblicos (principalmente os aqui citados), que se ponham a
observar os assuntos dos santos ao voltarem de seus tabernáculos nos pontos de
ônibus, na fila de um banco, na escola em que você estuda ou leciona (acredito
que todos façamos os dois inclusive) e responda, com sinceridade, senão estão
presentes nas falas destes indivíduos os discursos de Lutero, de alguma forma.
Não contente, observe o mundo ao seu redor.
Leia-o. Devore-o como se fosse um livro sobre um prato e pense em quem seriam
os camponeses perseguidos pelos Luteros e Reformadores de nossos dias. Seriam
os gays? Seriam os comunistas? Seriam os moradores do centro de São Paulo em
frente à Copa do Mundo? Seriam os professores que saem às ruas a reivindicar
uma educação libertadora e condições para colocá-la em prática no cotidiano?
Vejo Luteros.
Vejo camponeses.
Vejo camponeses.
Vejo
revolucionários esmagados sobre o anonimato e a perseguição da estupificação
todo o tempo.
E você?
E você?
O que vê?
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Vestes de Salomão
Ela disse
Que não gostava de receber flores
Apenas jóias
Ouviu que Deus fez as flores
Que as jóias foram feitas pelo homem
Professou a fé no Cristo
Mas manteve-se
Convicta
Forte e invicta
De que as jóias valiam mais que as flores
As jóias, as flores
Quais são os seus valores?
O paradoxo de Sócrates
Trema
Eugênio meritocrata
Mire no que estou dizendo!
Não são pedidos
São afirmações!!!
Não existe gênio
Existe o homem
Não creio em homem gênio
Pois se todo homem pudesse
Ter a chance de ser gênio
Gênio seria
E se todo gênio
Tivesse a chance de ser homem
Homem seria
Pois todos temos o que pedir
Mas o gênio, que está entre todos
Não tem a quem pedir
Pois até ao gênio
Falta oportunidade
Originalidade
Dentro da caverna
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