Ser Pensante

Ser Pensante
"Todo homem honesto deveria tornar-se filósofo, sem se vangloriar em sê-lo." Voltairé

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Humanista? Cristo?!!






Não é de hoje que tenho sido testemunha de um levante ideológico que visa trazer tumulto pró status quo, no que diz respeito a uma importante discussão que todo indivíduo que se interesse, de fato, pela mensagem e práxis da fé cristã (e que a palavra cristã não seja tomada aqui em sentido de organização eclesiástica e institucional apenas) deve passar, afim de ter boa compreensão referente aos pressupostos em volta de tal temática. A problemática gira em torno da crítica que alguns homens doutos na fé fazem aos cristãos que se denominam libertários, ou que têm uma perspectiva teológica mais centrada em, ao menos, questionar a ordem vigente mais conhecida como ortodoxia, em fazerem confusão entre a mensagem de Cristo e o conceito filosófico conhecido como humanismo.

Inicialmente, gostaria de usar algumas obras que tenho em mãos que dão uma breve definição sobre o que vem a expressar de fato a palavra humanismo. Vejamos a definição sugerida pelo dicionário Houaiss[1]:



“substantivo masculino
1          movimento intelectual difundido na Europa durante a Renascença e inspirado na civilização greco-romana, que valorizava um saber crítico voltado para um maior conhecimento do homem e uma cultura capaz de desenvolver as potencialidades da condição humana
Exs.: o h. italiano
 o h. francês
2          Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: filosofia.
conjunto de doutrinas fundamentadas de maneira precípua nos interesses, potencialidades e faculdades do ser humano, sublinhando sua capacidade para a criação e transformação da realidade natural e social, e seu livre-arbítrio diante de pretensos poderes transcendentes, ou de condicionamentos naturais e históricos
3          vasta formação cultural que abrange o conhecimento das obras clássicas e o saber científico.”



Observem como o Houaiss faz distinção entre três possíveis intrepretaçoes frente o significado da palavra humanismo. Observe agora uma outra definição para a mesma palavra. Desta vez do Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano:[2]

Esse termo é usado para indicar duas coisas diferentes: I) o movimento literário e filosófico que nasceu na Itália na segunda metade do séc. XIV, difundindo-se para os demais países da Europa e constituindo a origem da cultura moderna; II) qualquer movimento filosófico que tome como fundamento a natureza humana ou os limites e interesses do homem.


Podemos observar com facilidade que a definição acima também faz distinção entre possíveis interpretações para a palavra humanismo. Inicialmente, gostaria de me ater ao segundo conceito de ambas as obras que tentam definir o conceito.

Entendo que se levarmos em conta a segunda definição das obras requeridas, temos algo muito parecido com o que propõe Cristo e a própria narrativa bíblica como um todo. Mas, não soaria um absurdo dizer que Cristo e a própria Bíblia colocam o homem como o centro de tudo, já que o próprio Cristo seria maior que o homem e condena quem atribui a outro a centralidade que lhe cabe?[3] De fato isto soaria um tanto quanto estranho se entendermos que o humanismo visa tirar Deus do trono e colocar o homem sobre ele.

É de grande relevância levarmos em conta que existem diferentes tipos de humanismo, dentre eles, o humanismo cristão, o humanismo religioso, o humanismo renascentista etc. Porém, podemos considerar que todos têm as mesmas bases evidenciadas pelas definições que destaquei anteriormente, passando pela definição histórica do humanismo, obviamente.

Tomemos por consideração alguns pontos, crendo ser aqui desnecessário o uso das referências bíblicas em notas de rodapé para o que pretendo evidenciar. Pois bem, Deus fez o homem e o destacou sobre toda a natureza, dando-lhe autoridade sobre a mesma. O próprio Deus deixa evidente que sua criação lhe dava prazer e lhe servia de companhia. Deus, após ver que sua tão amada criação o rejeita desobedecendo-o, faz todo um plano mirabolante para ter novamente a sua criação como companheira. O plano mirabolante de Deus envolve o próprio Deus, fazendo com que o mesmo se entregue por toda a humanidade. Este Deus, feito homem, resume todas as possíveis leis criadas em nome Dele aos homens em dois mandamentos, que se complementam e que não são indissociáveis: amá-lo de toda a alma e amar ao outro que, assim como eu, é também humano.

Levando-se em conta que o humanismo é uma doutrina que visa colocar o homem como o centro do universo, não podemos ousar dizer que o Deus que cria e, este mesmo Deus que se dá a favor da criação é o maior dos humanistas? Bom, fica aqui a minha pergunta, ainda que eu não tenha total competência para abranger o tema na sua mais alta complexidade.

Por fim, gostaria de dizer que fico feliz em descobrir recentemente que não sou o único a ser considerado um grande equivocado ao misturar cristianismo e humanismo. O consagrado escritor russo Dostoievski, no cume de seu esplendor como romancista e homem, escreveu sua última obra intitulada Os irmãos Kamarazóvi e também foi visto como alguém que se equivocou ao apresentar Cristo como a personificação do humanismo no conto que contém a obra A parábola do grande inquisidor. Uma das falas de Dostoiveski na obra que bem elucidam seu caráter humanista[4]:
“Chamam-me psicólogo; não é verdade, sou apenas um realista no mais alto sentido, ou seja, retrato todas as profundezas da alma humana”
DOSTOIEVSKI, F. Os irmãos Karamázovi, SP: Martin Claret, 2004, p. 761


Mas, e você? Também acha que Cristo foi o grande símbolo do humanismo? Gostaria que pensasse comigo a respeito e, se possível, partilhasse da sua opinião sobre.

Paz e Sabedoria.

Ser Pensante, vulgo Denis.


[1] Definição extraída do dicionário Houaiss versão digital.
[2] ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Martins Fontes, São Paulo, p 518.
[3] Rm 11. 36; Mt 22.38
[4] DOSTOIEVSKI, F. Os irmãos Karamázovi, SP: Martin Claret, 2004, p. 761

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Verdade







Me disseram pra parar
Me exortaram pra fechar
Os meus olhos pro que há de mal
Mais então eu percebi
Que nos versos que cantei
Só pude falar do que eu vi

E o que eu vi era ruim
E eu não pude me conter
Comecei a entender
E logo a escrever
Foi em forma de canção
Que minha insatisfação
Soou nos ouvidos de quem sabe
Que a verdade quando quer
Teimar em aparecer
Surge alguém pra convencê-la
Á mostrar sua beleza

A beleza da verdade
Logo vai aparecer
E pro que ansioso espera
O desfecho do saber
Ô verá com roupas claras
Esbanjando perfeição
No som de uma canção
 Na voz de um violão

(Musica publicada no antigo blog www.dennisportell.blogspot.com, em 29 de agosto de 2010)