Ser Pensante

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"Todo homem honesto deveria tornar-se filósofo, sem se vangloriar em sê-lo." Voltairé

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Isto aconteceu quando Jesus revelava suas doutrinas aos homens


ISTO ACONTECEU QUANDO JESUS REVELAVA SUA DOUTRINA AOS HOMENS
Estocado em DOCUMENTOS · FÉ E CRENÇA

Leo Tolstoi

I

Isto aconteceu quando Jesus revelava sua doutrina aos homens.

Seu ensino era tão claro, tão fácil de seguir e salvava os homens do mal de forma tão evidente que parecia impossível que não fosse aceito, ou que algo impedisse a sua disseminação.

Belzebu, pai e soberano de todos os demônios, ficou apreensivo. Ele via claramente que seu poder sobre os homens terminaria para sempre, a não ser que Jesus renunciasse ao seu ensino. Ficou apreensivo mas não perdeu as esperanças, e incitou os escribas e fariseus, seus obedientes servos, a que insultassem e atormentassem Jesus o máximo que pudessem, e aconselhou os discípulos de Jesus a que fugissem e o abandonassem. Ele esperava que a condenação a uma execução vergonhosa, a humilhação e o abandono por parte de todos os seus discípulos, e finalmente o sofrimento e a condenação em si, levariam Cristo a renunciar ao seu ensino no último momento, e que essa renúncia destruísse todo o seu poder.

A questão foi decidida na cruz. Quando Cristo exclamou: “Meu Deus, Meu Deus, por que me desemparaste?”, Belzebu exultou. Tomou os grilhões que tinha preparado para Jesus e experimentou-os em suas próprias pernas, ajustando-as de modo a que não se soltassem quando colocadas em Jesus.

De repente, no entanto, ouviram-se da cruz as seguintes palavras:

– Pai, perdoe-os porque eles não sabem o que fazem.

Depois disso Cristo exclamou: “Está consumado!” e entregou o espírito.

Belzebu compreendeu que tudo estava perdido.
Belzebu compreendeu que tudo estava perdido. Tentou libertar as pernas dos grilhões e fugir, mas não conseguiu sair do lugar. Os grilhões haviam se soldado a ele, e atavam seus próprios membros.


Tentou usar suas asas, mas não conseguiu estendê-las. E Belzebu viu como Cristo apareceu nos portões do inferno com uma auréola de luz, e como os pecadores, de Adão a Judas, saíram, e como os diabos fugiram, e como os próprios muros do inferno desabaram em silêncio em todas as quatro laterais. Incapaz de suportar mais disso, caiu pelo assoalho despedaçado, com um grito lancinante, para as regiões inferiores.


in www.baciadasalmas.com

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Ser, sem crescer














O que você quer ser quando crescer?
Pra crescer, tem que desejar
Você tem que querer ser
Grande, alto, almejar

Mas eu gosto de ser criança, ser moleque
Não nasci pro luto
Nasci pro blefe
Não quero o truco

Seis, nove, doze mil
Pouco importa o valor
Vão pra puta que pariu
Quero o amor, o ardor

Nada incolor
Quero a beira do mar, a arte de amar
Sem fama, sem lama, apenas a dor
Da cama, da gente, do ócio do bar

Quero me graduar em passeios
Em calçadas me hospedar
Não impeçam meus devaneios
De desejar escapar

Da vitória, de ser grande
Eu luto contra a glória
Da memória, de ver que sou grande
Eu quero a vida simplória

Meu sonho, como profissão
Pessoas a ouvir ao caminhar
Me permitam acreditar
Que ao meu sonho, pode ser que o mundo não me diga não

Pequenez tola, nada sóbria
Digna de quem conhece a Terra que habita
Seus frutos, o vento, habitam minha memória
E eu, já estou fora de órbita

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Onde tudo pode acontecer...

   

     Alô!
     
     Alô, Alô!

     Não me chamo Lucas Silva e Silva, mas chamo do planeta Terra também. Não tive a sorte de nascer em uma família de classe média alta, com uma grande casa, um quarto só para mim, brinquedos sofisticados, um quintal com um grande gramado para minha diversão, tios e amigos que me cercassem com presentes caros. Sou apenas um rapaz, latino americano, vivendo no interior dos interiores, na periferia da periferia chamada América Latina. Ter uma bola com a câmara exposta já é lucro pra mim. Ter uma bike da Calói anos 80, luxo. Meu maior brinquedo se chama sol, mas por aqui, ele tá mais de 40 graus. Por ironia, só posso brincar quando meu maior brinquedo é retirado.

    Apesar de falar do planeta Terra, me sinto no mundo da Lua. Aqui as pessoas estão longe, lentas, não falam muito, pensam pouco, parecem sentir a gravidade. A gravidade da situação nos faz levitar e evitar o outro. Falando em evitar, tem um tal de celular que serve pra se comunicar com os outros, mas por aqui as pessoas usam este brinquedo para se evitarem. As mãos e os olhares fixos a este aparelho são a fuga quando se quer fugir de uma conversa com alguém. Claro, conversas geram perguntas, que geram respostas, que geram discórdias, que geram ódio, que geram guerras. Aqui, no planeta Terra/mundo da lua tudo é dor, gerada pelo desejo que não nasce do amor, mas da inveja. 

  Quem tem um quintal, inveja quem tem um quintal com gramado. Quem tem um quintal com gramado, inveja quem tem um quintal com piscina. Quem tem um quintal com piscina, inveja quem tem um quintal com piscina e mora de frente pro mar. Quem mora de frente pro mar, inveja quem mora na favela mas sabe nadar. Quem sabe nadar e mora na periferia como eu, geralmente sonha em entrar neste circulo vicioso. Quem entra nesse círculo vicioso morre infeliz e ocioso. Quem tem a noção de tudo isto, como eu tenho, de que vive na Terra e no mundo da Lua, busca um céu, um paraíso, que nunca chega, mas que a esperança insiste em bater a porta. Quem abre a porta para ela, sabe que vivendo assim, com a porta aberta para a espera, é preciso insistir, porque vive em um lugar...

Onde tudo pode acontecer.

Denis Portela
20/01/2014
Boquim, Sergipe, Brasil.