Ser Pensante

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"Todo homem honesto deveria tornar-se filósofo, sem se vangloriar em sê-lo." Voltairé

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A contra-cultura como profissão de fé - Parte 2

Sim, eu acredito que Jesus salva!

Seguir seus passos, tomar a sua rotina, viver como ele viveu neste mundo, é salvar-se de toda a corrupção que promove esta sociedade; é salvar-se dos malefícios do consumo; é salvar-se de uma vida desprovida de significado, tanto do indivíduo em si, de maneira existencial, quanto do ser coletivo.

Sim, eu creio que Jesus cura!

Cura o caráter; sara as feridas do ódio; tráz o remédio para toda a hipocrisia; alimenta o espírito humano quando este está prestes a morrer de fome. Tudo isto ocorre, quando o mesmo se propõe a observar os frutos que A Árvore maior deu e plantar a semente deste fruto em seu coração.

Sim, eu creio que Jesus voltará!

Voltará a linda mensagem desprovida de interesses materiais, de ganância, apoiada sobre o ópio da religião e da ilegítima fé.

Toda esta Graça me é suficiente, e nela se baseia a minha fé.
Diante de todas as três afirmações anteriores, todo o resto, principalmente o que não é passível de experimentação, pode ser descartado.

Testemunho aqui a mudança ocorrida em minha vida, após meu novo nascimento, abandonando as mazelas da corruptível religiosidade secular e abraçando este alicerce.
Talvez seja esta, uma genuína confissão evangélica, desapegada das fantasias mitológicas e pautadas sobre uma prática de vida que realmente seja significante ao que a conduz para si, e aos que o acompanham.

Quem quiser, que abrace esta contra-cultura como profissão de fé e seja verdadeiramente feliz, dentro das possibilidades que a consciência do todo nos concede.

Um bom dia à todos!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Tolstoi professando aos professores.

"... longe de querer acusar a ignorância do povo que não gosta da nossa instituição (escola), é a nós mesmos que devemos taxar de ignorância e de orgulho, se pretendemos instruir o povo à nossa moda.

   Cessemos, pois, de considerar a resistência do povo à nossa instrução como elemento inimigo da pedagogia; vejamos nela, ao contrário, como a expressão dos desejos populares, e só eles devem guiar a nossa ação. Reconheçamos enfim esta lei ditada tão claramente, seja pela história da pedagogia, seja pela história inteira da instrução: para permitir àquele que instrui saber o que é bom e o que é ruim, aquele que se instrui deve ter inteiro poder de exprimir seu descontentamento, ou pelo menos de virar as costas a uma instrução que não o satisfaz; há apenas um único critério de pedagogia - a liberdade."

   TOLSTOI, Léon. La liberté dans L´École. Paris: Nouvelle Librairie Parisiense, 1888.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Eu sou da rua

    

Já está atrelada a minha fala, de maneira constante, quase como o ar que enche os meus pulmões, meu orgulho com relação ás minhas origens. Sou oriundo da periferia da zona norte paulistana. Ser da rua, para pessoas que entenderam bem o que isso significa, tem uma conotação de enorme validade, que transcende qualquer análise primária sobre tal identificação. Porém, esta minha fala parece estar sofrendo algum tipo de alteração. Analisando o que quero dizer com isso, e o que as pessoas que ouvem realmente compreendem perante a afirmação "Eu sou da rua", talvez caiba uma reflexão e, talvez, um frear a língua quando a mesma coçar, de maneira avassaladora, para proferir tal expressão.

  Venho de um tempo onde "Eu sou da rua" parecia soar algo, quase que unânime. Cresci no final da década de 90 e ser da rua, representava a delícia que era levantar 5h30 da matina e ir para o capinho de terra treinar com o "Seu" Anselmo e o "Professor' Claúdio, contrariando a mãe que ficava preocupada pelo fato do campo ser longe, de rolar aquela chuva e de querermos estar ali, mesmo sabendo que a qualquer hora poderia rolar uma troca de tiros, uma confusão por nada, coisas do tipo. Mas, o prazer de estar descalço sobre a terra, de sentir a chuva e de compartilhar esse gosto com outros iguais a mim, expressando esta sina ao correr atrás de uma bola, ou em algumas ocasiões, atrás apenas da câmara da mesma, valia todo e qualquer risco.

    Ainda nestes "longínquos" tempos, ser da rua soava algo do tipo "não ter a porra de um trocando no bolso pra pagar a Tubaína que valia o contra com o time da rua de cima", no meio dos asfalto, na descida, onde as traves eram os pares de Riders e Havaianas velhos, e se sentir realmente feliz, sem desejar ter algo muito além do sonhado trocado. 

   Ainda me sinto bem quando afirmo 'ser da rua", e penso na luta quer era ir pra escola, naquela ansiedade pela prova que ia cair naquela noite onde o tricolor iria jogar a Libertadores e, ninguém sabia ao certo se estudava um pouco antes da professora entrar na sala ou se ligava o radinho de pilha pra ver se já havia saído algum gol. Depois de dar aquele trampo o dia todo, não era tão fácil colar na escola e prestar total atenção nas aulas. Ainda mais sabendo do jogo decisivo na presente data. Mas, ainda assim, com todo o cansaço e se sentindo tentado pelo time do coração, a consciência frente a importância da prova era mais forte e, boa parte dos que estavam comigo, se dedicavam a necessidade da mesma.


    Nesses tempos parecia que para ser da rua bastava respeitar todos na quebrada. Principalmente os mais velhos que faziam os corres. Tipo: tinha aquele rio na rua de casa e direto dava enchente. A prefeitura não resolvia fazer nada, até que os tiozão da vila decidiram ir fazer um barulho la na Globo, o SPTV colou lá po, os tiozão ganharam o respeito de todo mundo, até hoje. Não era nenhum tipo de entorpecente artificial que fazia com que eu me sentisse da rua. Era a identificação com gente que era da minha gente. Gente tipo meu pai, que eu só via chegando do trampo e nunca via saindo.

    Hoje, quando eu entro em uma sala de aula e afirmo 'ser da rua", para alguns poucos, ainda soa o que soaria para mim nos anos 90. Mas, para boa parte da massa, ser da rua não tem mais o mesmo significado. Ser da rua torna-se agora, sinônimo da malandragem advinda da desonestidade, da exploração sobre o honesto. Ser da rua se resume a falar uma ´serie de gírias mal construídas, que não tem a mínima intenção por parte dos que as criam e as adotam de reivindicarem sob as mesmas o devido título de dialeto, lutando contra a rotulação sobre a forma como vivem e falam. Querem se afirmar sem afirmar absolutamente nada. O respeito, passaporte sempre bem quisto para entrar e sair de qualquer lugar, parece que foi trocado pelo bilhete único da ignorância elevada ao cubo.

   Eu não sei se meu relato soa por demais nostálgico, ingênuo ou elitista. O fato é que, independente da forma como isto soe, no meu peito, isto ainda soa como soava nos anos 90. E se no peito de outros o sentido foi modificado, a luta pelo resgate de tais valores cabe aos que, como eu, ainda tem a verdadeira rua batendo dentro de si, tal qual a bola velha de capotão batia no chinelo, gerando uma forte discussão entre todos se havia sido gol, ou se havia sido trave.

  A verdadeira rua não bate na trave.