Ser Pensante

Ser Pensante
"Todo homem honesto deveria tornar-se filósofo, sem se vangloriar em sê-lo." Voltairé

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Aprendizado

Poesia dedicada à todos meus alunos formandos do CIEJA Vila Maria/Vila Guilherme em 2014.

Aprendizado

De folha em folha
De letra em letra
Cada ponto e vírgula
Desmancham corações e pedras
Deslancha um monte de ideias
Renova a alma já usada
Cria nova caminhada
Levanta um guerreiro
Que sempre esteve de pé
Mas que não sabia disso
Desistiu de ser omisso

Aprendeu
O mundo leu
O mudo ouviu
E compreendeu
Que é só o trilho da vida
A tomada das rédeas do destino
Que leva o homem ao seu vinho

A degustar o aprender
Que ensina, deixa claro
Que ninguém sabe sozinho
Que de filhos nasce um ninho
Que a escola é um caminho
Que não é pequenininho 
Mas faz grande eu
Você, o seu vizinho                                     
O ancião e o garotinho
O Seu Tião e o mano Binho
Do violão ao cavaquinho
Todos aprenderam
Devagar, devagarinho
Sem parar
Que educar é

Aprender, compreender
E ensinar a amar
Passe a lição ao seu vizinho
Construa
E siga em paz o seu caminho

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Faça o que eu digo...

A vida tem dessas coisas
Engraçadas, contraditórias
E, talvez por isso
Verdadeiras anedotas

Você, que por toda a vida
Brigava comigo
E me pedia
Pra não sair daquela fria
Agora bebe
Se banha e se acanha
Sobre a mesma bacia
De água suja e fria

A água sobe
Uma hora bate a agonia
De se sentir só, numa gelada
Frio, sem alegria
A liberdade
Sempre vale
Mais que a simpatia
Que pela tradição ardia
E sempre nos prendia

Então, toma!

Um ser humano
Que não toma as rédeas do seu destino
Não pode ser humano
Pois ser é atuar 
É ser humano e atuar sobre o errar
Sobre o tentar 
Sobre o falhar e o acertar 
Que só tem o prazer de sentir 
Seja para chorar seja para sorrir
Quem as rédeas de seu lastro 
Toma para si

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Utopia

Me encontre
Perdido sobre a minha crença
Acharás o meu sonho
A minha coragem
E vossa sentença


Madrugada

Amanhã
As seis
Iremos saborear uma nova fruta
Chamada dia
Que acaba de cair
De um pé de noite
Fria


Calma

A beleza do amanhã
Está na novidade
Única do amanhã
Já que o ontem não pode ser novo    
O amanhã não será repetitivo
Ainda que a máquina
Que deseja repetir aos homens
Assim queira

sábado, 29 de novembro de 2014

Porta aberta com Chaves


Abre-se a porta para Chaves
Alguém o recebe
O senhor é Zeus?
Sou Deus
E o que eu disse?
Zeus
E como é ?
Deus
E o que eu disse?
Entra logo Chavinho
O céu é seu barril
E a eternidade a sua vila
As nuvens o seu algodão doce
E as saudades dos que ficam
O seu sanduíche

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Davi

Quando criança
Diziam os profetas
Que eu teria o dom da palavra               

Me apequenei depois de grande
E poeta me tornei
Sem ser Dom da palavra

Dela apenas servo
Servo não
Irmão

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Vivo-morto




Cole
Eu também costumo ouvir
Gente que ninguém vê
Que acabou de morrer

Que vaga por aí
Procurando atenção
Sendo os olhos e ouvidos do outro
O seu único caminho

Cole
Eu também vejo e ouço gente morta
Que a mesma sociedade que mata
Insiste em afirmar
Que vive
E, com muito empenho
Vence

Cole
Só o vivo que se faz morto
E o morto que deseja viver
Podem se entender

Vivo!
Morto!
Morto!
Vivo!
Eu também quero brincar
De ver, ser visto
Ouvir, falar
Estar por baixo
E de pé ficar
Para que vivo
O mundo possa me amar
E morto
Possa outro ressucitar

domingo, 16 de novembro de 2014

Contos

   Certa feita, um poeta renomado, considerado um mestre da arte do pensar, que além de tudo traduzia textos, falava muitos idiomas, pintava muitos quadros, que ganhou muitos prêmios, resolveu isolar-se da fama. Muitos, quase todos mas nunca todos, o procuravam para ouvir o que ele tinha a dizer sobre uma grande quantidade de assuntos, quase de todo tipo mas nunca todos,  que pudessem estar a mesa. Sua palavra era decisiva e redentora para muitos. Poucos a entendiam. Sobre um simples tomar de vinho do guia, tomavam suas decisões.


    Em uma determinada noite, resolveu o sábio poeta isolar-se de tudo. Exilou-se. Criou a sua ilha. Isolou-se de quase tudo. Subiu as montanhas e foi ter única e exclusivamente com o vento. Mas, passou a notar que até ali, havia alguém além dos pássaros e dos insetos a lhe observar. Certa feita, ele convidou o jovem que estava a lhe observar a dias para entrar e indagou: 

- O que buscas em mim?

O jovem disse:

- Quero apenas beber da sua água,  dizer o que não dizia, como tu, meu admirado poeta a segundos, em si mesmo, fazia.


    O mestre pediu que ele se sentasse e se pôs a discursar, a falar por todo o tipo de parábola, usando toda a espécie de metáforas.



   Ao final, o sábio mestre, acabara seu sermão ressaltando: 



 - È preciso olhar ao seu redor e deixar a sabedoria fluir. Ouvir, ver, sentir, perceber-se, e afirmar o que há, houve e poderá vir a existir disso tudo que contemplastes. A ti bastas a contemplação. 

    O mestre soltou um brado!


   - Ouvistes?

   O jovem atônito: 



 - O que?


   O metre gritou novamente, esbravejando, inconformado...


- Ouvistes?????!


 O garoto, zonzo, acreditando ter desperdiçado um grande ensinamento proferido ali, temente, também esbravejou num surto de agonia:


- O que ???!!!!


  Respondeu o mestre:



 - Um pum.



 - O que?



 - Ouvistes? Ou vistes?



 - O que?



 - Um pum!



   E disso nasceu mais uma poderosa poesia do mestre, um grande ensinamento, que se tornou uma grande canção, que foi gravada, que foi às rádios, mas que nem o jovem que tanto admirava a sua sabedoria, nem os que leram a sua poesia, nem os que ouviram a sua canção, puderam entender.



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Raros

O que salva o nosso dia
São os raros
Os raros 
abraços
Os raros
 apreços
Os caros 
sinceros
Os seres 
sem preço

O que salva o nosso dia
São os raros
Os raros 
libertos
Os raros 
libertadores
Os bravos 
guerreiros
Que sentem 
as nossas dores

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O diplomático latrocínio do eu






A minha liberdade quase nunca é diplomática.

Não se pauta sobre os sonhos que querem me vender.

Eu compro apenas o que produzo e produzo para não vender.

Não sou e não crio mercadorias.

Não há como sonhar sobre sonhos impostos, pois tarifas não são sonhos, mas pesadelos.

O pesadelo é o roubo da subjetividade humana, entendida como aquilo que não é adquirido em um mercado, com um primeiro salário.

Conseguem roubar até a única coisa que é nossa: o eu.

Não há como ser diplomático quando até esta liberdade é atingida.

Esta liberdade que é a única na verdade.

Não seriam os diplomáticos estes ladrões?

Não seria a hipocrisia social imposta sobre o indivíduo a universidade perniciosa a diplomar, especializar, mestrear, doutorar e pós-doutorar estes ladrões?

Tornando-se mestres nesta arte, roubam e depois matam. Ou roubam e matam ao mesmo tempo?

Seria um diplomático latrocínio do eu?

Ficam aqui os questionamentos de uhomem quase livre.

O dia em que o carteiro chorou



    Era mais um dia como tantos outros. Acordar cedo, pegar o busão lotado, seguir a rotina e voltar cansado. Mais do mesmo. Mas como disse anteriormente, apenas era. A noite anterior já dizia que o dia seguinte seria diferente. Foi nesta noite que o decidi baixar o cd ao vivo dos pais do rap nacional Racionais MC's, gravado na Zona Leste de Sampa. E, essa noite, merecia uma data para comemoração de aniversário, pois nela nasceu um novo homem para o mundo, que teria mais armas ideológicas e espirituais para lutar por um mundo novo para os homens.


  Racionais MC's não era novo pra mim. Lembro-me muito bem que na sexta série, lá pros meus 11, 12 anos, a professora Arlete de Português  havia levado a letra de "Diário de um Detento" para discutirmos em sala (essa professora não faz ideia do que ela criou a partir desta iniciativa). Além desta experiência extremamente significativa no âmbito escolar, existem ainda as inúmeras ocasiões em que me deparava com alguém, dentro dos meus círculos sociais da adolescência, ouvindo o sagrado som do grupo, fosse na fogueria acessa de madrugada na rua em frente a casa que meus pais moram ainda hoje, fosse no celular de alguém na volta da escola para a casa, fosse no toca fitas/cd do carro de outra pessoa da área, fato é que eles sempre estiveram comigo. Anos depois, crescido, com 24 anos de idade, recém formado no curso de História, me preparando para deixar os Correios e começar a lecionar, passei a dar mais atenção ao som do grupo e seu potencial revolucionário. Decidi que era preciso especializar-me no som dos caras. Pensei: nada melhor que baixar os discos e ir ouvindo no caminho pro trampo. E, de fato, não havia nada melhor.

  Sete e meia da matina do dia seguinte e lá estou eu, subindo pela porta de trás com a gentileza dos motoristas de sempre no segundo buso que eu pegava no dia para chegar até o Centro de Distribuição Domiciliar dos Correios. Assim que subi no ônibus, em pé, lá nu fundo, com o meu jaco de carteiro e a touca para cobrir as pequenas orelhas no dia frio, cobri os ouvidos com um manto: o som dos Racionais MC's. Começa aí a história. 


   O som começou a rolar e a gritaria total, monstruosa. Eram os caras entrando no palco. Dava até pra imaginar a cena, mas me preocupei mais em fechar os olhos e sentir a energia. Logo, vieram as ideias:


- Caraca, isso é o povo! A força do povo! A voz de um povo unificado, em gritos, dores e satisfação! Isso é Louco demais truta!





   Daí pra frente foi curtir a letra. A música era "Fórmula Mágica da Paz".

   Coincidentemente ou não, pouco tento antes, eu havia conhecido o fantástico russo Liev Tolstói, que foi um homem absolutamente digno de honra. Pacifista, seguidor do Cristo, homem que influenciou Gandhi em suas lutas e que decidiu abrir mão de toda a riqueza que tinha para estar entre os camponeses (classe absurdamente pobre e miserável da Rússia de seus dias). Naqueles dias eu estava a ler o tratado pacifista de Tolstoi intitulado "O Reino de Deus está em vós", um dos livros que mais tocou o meu ser. Nesta obra Tolstoi defende muitas ideias, dentre elas, a de uma nova sociedade, que respeitasse mais a natureza e estivesse mais próximo dela. Ele não só pregou isto como agiu desta forma. O livro e a música se misturaram, e a minha mente e alma se dissolveram quando ao final da canção, sobre o silêncio brusco do público em meios aos gritos anteriores, surge a voz de Brown e a profecia: 




"Zona Leste, não se aproxime desse cotidiano de violência porque essa vida não foi feita pra você rapaz. Você foi feito pra correr nos campos, andar entre crianças,cachorros, velhos,flores, natureza, rios, água limpa pra beber rapaz. Essa foi a vida que Deus fez pra você. Mas o ser humano é ambicioso, eles estragou tudo.


Vamo que vamo! Esse é o caos, esse é o mundo que você convive hoje, certo? Século XXI, com a geração do Século XXI, e o que você vai fazer pra mudar, cruzar os braços e reclamar, ou você vai ser a revolução em pessoa? Acredito em você Zona Leste, acredito em você periferia! 



Procure a sua, eu vou atrás da minha Fórmula Mágica da paz!" *

   Naquele momento, olhando todo o mundo ao meu redor, as pessoas que cresceram no mesmo bairro que eu, o ônibus lotado, todas as nossas dificuldades, o que eram os bairros em que eu havia trabalhado (praticamente todos os periféricos da Zona Norte de São Paulo), não me restou nada além das lágrimas e de uma força arrebatadora que vinha sobre mim naquele momento.



   Teria eu ali alcançado o Nirvana? Sentido a presença do Espírito Santo? Recebido alguma entidade? Bom, não tenho as respostas. O fato é que tudo a minha volta era nada e esse nada tudo ao mesmo tempo. 

  Apenas lágrimas sobre a fala de Brown, os escritos de Liev e a realidade do povo a nossa volta.



   O restante do dia que seria exatamente igual, foi diferente, e os dias diferentes se multiplicaram a partir deste. 








*Discurso que desde então passei a usar em todas  escolas em que lecionei, substituindo "Zona Leste" por "Zona Norte". Muitos sentemo peso da fala como eu senti, e que assim seja por todo o sempre. Que Deus abençoe o Brown.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Soldado Cândido

Deve ser um grande artista
O soldado companheiro da sinceridade
Que luta a seu lado
Sem ferir ninguém
E ainda sai ileso

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A Reforma do novo mais do mesmo

   Entender a máquina que transforma os homens em máquinas. Árdua tarefa. Parar em um ponto de ônibus sobre uma forte chuva, observar as pessoas a sua volta. O jeito, a forma como olham, as palavras que pronunciam e os assuntos que valorizam em seus diálogos, cada cena do espetáculo remonta a um paradigma. Algumas obras, algumas mentes se predispõem a fazer mais do que apenas reproduzir a máquina que são dentro da Grande Máquina que os formou. Querem compreender se de fato são máquinas, se rebelar contra a Máquina Mãe que os pariu , renegando assim a sua casta, o seu cálice. Dentre alguns destes homens, me deparei Leo Huberman. Sua obra “História da riqueza do homem” tem exatamente esta pitada de rebeldia frente a Grande Máquina, e impulsiona no que degusta suas palavras uma cumplicidade para com o sentimento que elas elucidam.


 
    O sentimento que em mim já habita há muito tempo, essa profissão de fé sob a contracultura, esse abraço insano na espera do porvir sob o caótico conceito de temporalidade, se potencializou ao ler as argumentações de Huberman sobre o tempo e as diferentes predisposições humanas ao longo do mesmo. Confesso (e nem precisaria confessar o que já se faz evidente em meus gritos) que as observações feitas por Huberman e a luz que ele trás aos assuntos “Igreja Evangélica” (exemplificado no trato de “Reforma Protestante”) e “Transição do Feudalismo para o Capitalismo” me despertam maior ímpeto para a rebeldia, pois guiam o focinho do cão até o osso, dando sentido ao forte odor que sentia, conduzindo seu olfato até o que oferece prazer ao seu paladar da inconformidade. Eis aí posta uma porta sobre o social, e com as palavras deste historiador, muitas chaves.


    Lutero, a figura amada e preterida por muitos oradores e homens de influência na chamada era pós-moderna, tido como homem radical, é aqui evidenciado como responsável por muito do que é nossa catastrófica atmosfera xenófoba, elitista, machista, racista e classista. Eu cansei de respirar deste ar, e quero trabalhar com outros mágicos para que a respiração de muitos seja mais prazerosa do que a presente.  O porquê digo o que digo? O porquê ensaio uma ofensiva contra Lutero? O que este homem fez para ser responsabilizado pelo massivo processo de zumbificação contemporâneo? Ofereço a sequência com as devidas respostas.



    Segundo Huberman, gritavam os camponeses revoltosos com a miséria que todos os dias os castigava imposta pela igreja, pela passada Peste Negra e por todas as mudanças econômicas dos séculos XIV, XV e XVI, afim de se não se libertarem, ao menos aliviarem a sua dor:



“Cristo fez livres todos os homens.”[1]



   Em algum lugar, ressoava o grito do Cristo, passado mais que presente, se sobrepondo a céus e Terra como havia prometido:


“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”[2]

   

   Não contente, continuava Cristo a empurrar os camponeses do medievo a sua luta. Mostrava-se a favor dos oprimidos, contra a opressão e intolerante para com a mentira sobre suas palavras. De maneira simples, singela e sutil, se posicionou:



“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.”[3]


   Mas Lutero, o radical, o admirado, o revolucionário, o seguidor do bom Cristo, o Reformador da casa que estava prestes a desabar, sentenciou:


“Deus prefere que existam os governos, por piores que sejam, do que permitir à ralé que se amotine, por mais razão que tenha. Aquele que mata um rebelde faz o que é certo. Portanto, todos os que puderem devem punir, estrangular ou apunhalar, secreta ou publicamente. Os que perecerem nessa luta devem realmente ser considerados felizes, pois nenhuma morte mais nobre poderia ocorrer a ninguém. Estarei sempre ao lado dos que condenam a rebelião e contra os que a provocam.”[4]



   Acho que as respostas a todas as indagações anteriores sobre Lutero e seus filhos, sobre a fala do exemplar Pai da família cristã tradicional, foram postas sobre a mesa. Desfrute. Mas, ainda assim, gostaria de especificar ainda mais a razão pela qual vejo neste homem, nas suas posturas e nas suas falas, o entendimento de grande parte do que é a sociedade hoje, especificamente a brasileira, da qual faço parte, ainda que eu não me identifique com nenhum tipo de patriotismo ou nacionalismo.



   O historiador que uso aqui como base para as proposições que levanto indica o período vivido por Lutero, já conhecido por todos, e o período anterior ao mesmo e a sua Reforma, tão conhecido quanto, mas pouco evidenciado. A corrupção da Igreja e seus efeitos sobre a sociedade são objetos de muitos estudos sobre o medievo e também de todo o tipo de fala anti-cristã (e longe de mim excluir a razão de tais falas, ainda que goste muito do termo cristão), e muito antes de Lutero, outros já estavam a denunciá-las. Seriam outros radicais ou ainda, de fato, teriam existido homens de fato radicais quanto a sua crítica a Igreja? Observe o trecho que segue:



“Os primeiros reformadores religiosos, ao contrário de Lutero, Calvino e Knox, cometeram o erro de tentar reformar mais do que a religião. Wycliffe fora, na Inglaterra, o líder espiritual da Revolta Camponesa, e Hus, na Boêmia, não só protestara contra Roma, como também inspirara um movimento camponês de caráter comunista, ameaçando o poder e os privilégios da nobreza.” [5]



   Antes que me acusem de generalizações. Antes que me chamem de bolivariano da fé, de deturpador da mensagem do cristo e de aproveitador marxista, peço que examinem o mundo em que vivem. Peço que observem as programações ditas cristãs e nascidas da Reforma Protestante em seus televisores, que leiam os comentários de rodapé de muitos desses chamados “pastores” sobre os textos bíblicos (principalmente os aqui citados), que se ponham a observar os assuntos dos santos ao voltarem de seus tabernáculos nos pontos de ônibus, na fila de um banco, na escola em que você estuda ou leciona (acredito que todos façamos os dois inclusive) e responda, com sinceridade, senão estão presentes nas falas destes indivíduos os discursos de Lutero, de alguma forma.



   Não contente, observe o mundo ao seu redor. Leia-o. Devore-o como se fosse um livro sobre um prato e pense em quem seriam os camponeses perseguidos pelos Luteros e Reformadores de nossos dias. Seriam os gays? Seriam os comunistas? Seriam os moradores do centro de São Paulo em frente à Copa do Mundo? Seriam os professores que saem às ruas a reivindicar uma educação libertadora e condições para colocá-la em prática no cotidiano?





   Vejo Luteros.

   Vejo camponeses.

  Vejo revolucionários esmagados sobre o anonimato e a perseguição da estupificação todo o tempo.

     E você?

     O que vê?




[1] Huberman; p. 90
[2] João 8.32 (Bíblia Sagrada)
[3] Mateus 5.6 (Bíblia Sagrada)
[4] Ibid.
[5] Ibid.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Vestes de Salomão



Ela disse 
Que não gostava de receber flores
Apenas jóias
Ouviu que Deus fez as flores
Que as jóias foram feitas pelo homem
Professou a fé no Cristo 
Mas manteve-se
Convicta
Forte e invicta
De que as jóias valiam mais que as flores
As jóias, as flores
Quais são os seus valores?

O paradoxo de Sócrates

Se eu sei que nada sei
Como posso conhecer a mim mesmo?

Se algo sou
Sei que nada sei sobre algo
O algo que sou

Se nada sou
Sei que tudo sei sobre nada
O nada que sou

Trema














Não é que não gostem de poesia
Eles a temem
A poesia expõe o homem
Expõe a fraqueza do ser para ser criticada
E quando a fortaleza se mostra
Ela é invejada

Eugênio meritocrata


Mire no que estou dizendo! 
Não são pedidos
São afirmações!!!

Não existe gênio
Existe o homem

Não creio em homem gênio
Pois se todo homem pudesse
Ter a chance de ser gênio
Gênio seria

E se todo  gênio
Tivesse a chance de ser homem
Homem seria
Pois todos temos o que pedir

Mas o gênio, que está entre todos
Não tem a quem pedir
Pois até ao gênio
Falta oportunidade


Originalidade















Qual poesia é original
Se toda poesia fala
Do amor
Da paixão
Do viver
Da razão
Do subir
Do cair no chão

Qual poesia é original
Se todas falam
Do que todos já fizeram
Do que todos já sentiram
Do que todos já falaram
Do que todo é
Ser humano?

Dentro da caverna
















A poesia em tudo está
Inclusive
Nos filmes de terror
Que tanto tenho horror
Leia o roteiro 
Com mais nove amigos
De madrugada
Na caverna, numa gruta
E verás
Que até no horror de mercado
Existe uma poesia embutida
Que fascina o homem de lata

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A fortuna da mente



O jovem rico
Triste ficou
Quando o Mestre lhe suplicou

Percebeu que poderia se entender
Moralmente
Como o mais entendido dos homens

Mas, a moral
Do Mestre imoral
Aos olhos do jovem sendo mal
Disse-lhe:

Afortunadamente
A fortuna mente
E que a fortuna da mente
É ser simples
Como os que o nada têm

E Tem no nada
a sua fortuna

Mendicância ideológica

As madrugadas
O frio
Sem praias
Às vezes um sujo rio

Lápis, papel
Teclas, um mouse
Word, Blog
Minha casa a Lan House

Ébrio
Jogado sob o vício da escrita
Vagando de site em site
Sou perseguido pela polícia

O senhor Mark
dono do mundo
Acabou sozinho
E quer isolar um vagabundo

Não há salvação
Nem os vlogs, nem as montanhas
Nenhum deles atentarão
Para o que são minhas entranhas

Não me darão abrigo
Não deixarão de me sufocar

Estranhas
Eu sou estranho
Estes que me buscam
Não são os que lucram
São os estranhos
Os outros

Eu estou na metrópole
Incluído no virtual
Mas continuo a morar nas calçadas
Do meu mundo real

À todos que por aqui passam
Eu peço apenas um centavo da sua atenção
Alguns me estendem a mão
Mas a maior parte
Geralmente

Finge que não me vê

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Burro barra

A burra censura
Nunca irá barrar o gênio
Nem  emburrecer o sábio
Nem capacitar o burro
Que dá coices no queixo
Afim de calar a voz do que grita
Gritemos também nós

FI DE BAIANO

Você que se julga descendente de europeu, branco, raça pura, morador das grandes metrópoles brasileiras localizadas nas regiões sul/sudeste e pede a cabeça dos nordestinos, deveria estudar mais um pouquinho História.

Se estudasse, saberia que na Idade Média, em um determinado período onde passou-se a  produzir mais, vender mais, viajar mais; onde o dinheiro finalmente se tornou primordial para o surgimento de uma nova lógica econômica, surgiram o que chamamos hoje de metrópoles, ou grandes centros. 
Surge então o conceito de urbano. Os que habitavam estes grandes centros já tratavam com preconceito e discriminação os que vinham de fora. Era tudo uma questão de dominação territorial e econômica, que pela cegueira que o lucro causa no homem, colocava uns contra os outros, potencializando este estrume social chamado xenofobia.

Dependendo do lugar de origem de seus antepassados europeus, pode ser que tenham sido eles os nordestinos da época em que viviam. Pessoas que necessitaram ir de um lugar para outro, para o que chamamos de grande centro, para tentar sobreviver em meio a um sistema econômico que coloca uns contra os outros.

Pense nisso.

Mesmo que você saiba que nenhum de seus antepassados foi isso que chamo de "o nordestino da época", é bem provável que um destes mesmos antepassados que para você hoje é motivo de orgulho, tenha sido xenófobo.

Pense nisso também.

De toda a forma, acho bem possível você perceber, em toda esta reflexão que propus, que pouco evoluímos.

Não todos, pois sempre digo que "todo mundo é muita gente".

Repito o que havia dito em outra postagem. Repito também que isto que virá não se aplica a todos os homens, mas à grande parte deles, e talvez eu me inclua entre eles.

Não somos medievais.

Muito menos Antigos.

Ainda menos Pré-históricos.

É algo indescritível sob a temporalidade e os conceitos históricos sobre ela, o que somos hoje.

Somos o caótico resultado de tudo isso e muito mais.

Somos os filhos de uma modernidade inclassificável positivamente.

O pós-moderno da perdição humana.

"Ser humano perfeito, não tem mesmo não.
 Procurada viva ou morta a perfeição.
 Errares, humanos est, grego ou troiano.
Latim, tanto faz pra mim: "FI DE BAIANO"