Ser Pensante

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"Todo homem honesto deveria tornar-se filósofo, sem se vangloriar em sê-lo." Voltairé

domingo, 14 de junho de 2015

FARISAÍSMO: A RELIGIÃO DOS MILÊNIOS



INTRODUÇÃO



      A segunda década do século XXI pode estar evidenciando características de uma época própria, única, marcada por movimentos de ruptura política, cultural e econômica em larga escala, proporcionando aos historiadores, sociólogos e antropólogos do amanhã, um magno objeto de pesquisa para a compressão dos seus dias, que a nós parece que se darão de forma conturbada. Em suma, somos o ponto de mutação[1] do amanhã.

      O momento atual é, para muitos, o ápice da história da humanidade enquanto sociedade organizada política e culturalmente falando, principalmente pelo acesso que temos hoje às fontes de informação e facilidade em difundir as mesmas. Tomemos aqui o seguinte exemplo comparativo: se no século XVIII, Voltaire pôde concluir sua obra “Dicionário Filosófico” (uma espécie de Wikipédia comentada de seus dias), em espaço de tempo de meses ou até anos[2], podemos supor que se o mesmo autor se propusesse a escrever a mesma obra hoje, com certeza o produto final seria muito mais complexo em informações e dados históricos, tendo o autor maior facilidade ao buscar fontes de informação para o desenvolvimento de seu trabalho, além de poder disseminar suas idéias e provocações por todo o mundo, sem ter de depender da aprovação, incentivo ou patrocínio de qualquer rei, instituição religiosa, Estado ou editora para tal, desde que o mesmo tivesse uma conta no Twitter, uma página no Facebook ou um blog pessoal, o que pode evidenciar que qualquer um de nós possa ser o Voltaire de nossa era, contribuindo por meio da disseminação de idéias, à eclosão de qualquer revolução, em qualquer esfera. E muitos assim de fato se vêem.

         Segundo o IBGE, mais de 85 milhões de brasileiros nadaram sob as águas do virtual em 2013, o que em cinco anos representou um aumento extremamente significativo de mais de 50% de mergulhadores em atividade constante. Vale lembrar que exatamente no ano de 2013, as ruas das principais capitais brasileiras foram tomadas por diversos movimentos populares, com um número de reivindicações em suas pautas tão grande quanto o número dos que saíram às ruas, que se organizaram e disseminaram seus ideais por meio do ciberespaço.

     À luz destas observações, cabe a reflexão sobre nossa postura enquanto agentes protagonistas do presente tempo histórico, onde somos formados e formamos as tão expressivas opiniões. Temos anseio em expressá-las, pois arduamente adquirimos tal direito e, conseqüentemente, visaremos o lucro do reconhecimento de nosso trabalho em expor tais pressupostos coerentes por meio dos comentários, curtidas e compartilhamentos que evidenciam quem são nossos comuns e, por conseqüência, a unidade contra o incoerente e leviano réu: o inimigo comum.

     A presente era da Mãe Polêmica e das irmãs Rupturas no que tange ao todo do social, tem como carro chefe a religião e sua histórica influência sobre o complexo de complexos do social. E é exatamente aqui que encontramos o cerne daquilo que iremos desenvolver nestas próximas leituras. É aqui que surge o termo farisaísmo.

     O termo fariseu tem aparecido de maneira constante em polêmicas que concernem ao espaço religioso e tem sido atribuído principalmente aos que se reconhecem como propagadores de uma volta dos que não foram, de um retorno que se faz urgente à uma moral que acreditam ser a ideal sob o aspecto da  vivência do social, que defendem e classificam sobre o epíteto de “bons costumes”, que ao que parece à alguns não passam de pilares da tradição que nunca deixaram de sustentar a casa de maneira ineficaz, o que faz com que os que discordam desta reivindicação denunciem essa postura paradoxal como farisaica. Sendo assim, faz-se necessária uma reflexão sobre o conceito de fariseu. O que viria a ser este termo que outorgamos a alguém? Seríamos dignos dele também? Há um fariseu “farinha do mesmo saco”, que leva as crianças que fomos um dia a crescerem e se tornarem adeptos do farisaísmo, em cada um de nós?

     Nessa seqüência de textos sobre a presente temática, gostaria de convidá-lo a me acompanhar  nesta relevante busca, onde diversas obras, textos e autores nos darão um belo meio de transporte para uma viagem às origens, histórico da aplicação do termo e apropriação cultural deste ao longos dos tempos, de maneira exaustiva, mas de forma farisaicamente prazerosa.

     No mais, bem vindo ao constrangimento.

  










[1] Conceito tomado por referência ao livro “O ponto de mutação”, de  Fritjof Capra, publicado em 1983, que deu origem ao filme de mesmo título, dirigido por Bernt Amadeus Capra, em 1990.

[2] A mesma obra foi impressa no Brasil, em 2008 pela editora Escala, com 480 páginas.

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