Ser Pensante

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"Todo homem honesto deveria tornar-se filósofo, sem se vangloriar em sê-lo." Voltairé

domingo, 24 de junho de 2012

Cristãos: Uma espécie em extinção (Parte 3)


Cá estou mais uma vez. Creio que não precisarei me desculpar mais pela falta de comprometimento para com o tempo de espera que apresento a vocês, juntamente com cada texto que apresento. Se vos apresento um texto hoje, já sabem que o próximo tardará por vir. Infelizmente, nem só de textos vive um blogueiro. Alguns afortunados até vivem.

Ironias e desculpas a parte, gostaria de dar continuidade a série “Cristãos: uma espécie em extinção”, cuja última vez que escrevi deixei por continuar com a temática da apresentação de João Crisóstomo e a continuidade da reflexão proposta por Tolstoi frente o papel da igreja na conscientização da sociedade ao longo dos tempos no que diz respeito a resistência ao mal. Pois bem, demos continuidade então.

Tolstoi não cita João Crisostomo em vão. O hoje considerado santo e grande homem nos primórdios da igreja institucionalizada, talvez seja o principal responsável pela inserção da arte da oratória nas reuniões entre os cristãos. A temática é abordada de maneira complexa por Frank Viola na obra tão pouco trabalhada nas faculdades e cursos de teologia pelos bonzos do cristianismo contemporâneo de maneira complexa e de extrema relevância para aqueles que almejam compreender os primórdios da religião cristã. Vale ressaltar que Viola trata o costume do sermão como “A vaca sagrada do protestantismo”, observando desde o início o papel relevante que tomou a arte da oratória após o advento da Reforma no século XVI.

João Crisóstomo tornou-se conhecido em seus dias por ter uma admirável habilidade para discursar em público. Não é à toa que pessoas se exprimiam para ouvi-lo e contemplar seus sermões em nome da fé. Crisóstomo teve grande influência dos considerados “primeiros advogados do mundo”: os sofistas. Esta vertente filosófica nasceu na Grécia e começou a crescer muito na Europa aproximadamente 500 a.C. , pregando o alcance da virtude por meio das argumentações presentes em seus longos discursos. Crisóstomo, segundo afirma Viola, foi aluno de um dos maiores sofistas de seu tempo, o famoso Libanius.

Com forte influencia da escola sofista e também da literatura pagã (ou romana), Crisóstomo passou a ter muito mais espaço para dar seus sermões ao público dito cristão, sendo muitas vezes interrompido pelos aplausos da multidão, que admirava a habilidade que o mesmo tinha para proferir poesias, visando impressionar a plateia. O poder da retórica grega era tão influente sobre as pessoas, que certa vez, mesmo com Crisóstomo condenando os aplausos na “casa de Deus”, o povo aplaudiu o seu sermão ao término deste.

Bom, o que tudo isso tem a ver com os dias de hoje? Na verdade, para responder à esta pergunta é preciso conhecer um pouco mais sobre os costumes da igreja institucional contemporânea e a supervalorização que os mesmos dão à arte do falar em público. Em muitos cursos teológicos 9senão em todos) a disciplina conhecida como homilética tende a enfatizar a importância da arte da oratória, deixando de lado a importância devida à participação do todo nas reuniões entre os membros da ekklesia[1].

Gostaria de continuar esta reflexão por meio destes fatos históricos mais adiante.

Paz, sabedoria e inconformismo de espírito e mente a todos!



[1]  Assembléia; palavra que vem do grego e que deu origem ao termo Igreja.

5 comentários:

  1. Apesar de demorar, sempre vale a pena quando vem o post! Aguardo continuação...

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  2. Sem duvida, que, a habilidade da oratória foi um dos estopins que deflagrou a bomba na igreja organica, transformando-a na igreja institucional, pela "vaca sagrada do sermão" bem conduzido (nem sempre escrito no trilho da morte do ego), e "oportunizou" o dominio e ensino dos nikolaitas, escrito , em sua maioria, no trilho do ego do bom carater, tão nocivo quanto o mau. Ambos devem morrer.

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  3. fato! por isso não aplaudo quando alguém do púlpito pede, quando termino de cantar um cântico ou hino. As vezes o silêncio é muito mais bem recebido do que um milhão de aplausos.
    Obrigado pelo texto meu amigo!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Como estávamos conversando no grupo,
    quando um discurso inflamado ( a emoção), se associa a uma postura ( aqui falo de postura física mesmo, cênica), a um discurso de segurança (texto)- " eu te asseguro que Deus ta com você e vai ficar tudo bem se voce fizer isso... aí cai no terreno fertil que é uma vida difícil e sem estrutura emocional... resulta no que a gente ja conhece.
    Cada vez mais vejo semelhanças entre os Sermões e um espetáculo teatral. A diferença é que procurei o teatro porque vejo no ator um educador (Psicator).

    Muito bom o texto, quando conseguir terminar o que to tentando ver, vou atras dessa obra do Frank Viola

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