Ser Pensante

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"Todo homem honesto deveria tornar-se filósofo, sem se vangloriar em sê-lo." Voltairé

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O chaveiro da Casa sem portas - Parte 8




— Pois bem Vincent. No momento estou um tanto quanto atrasado como você pode notar. Seja breve.

Não era exatamente a resposta que Vincent anelava frente a sua iniciativa, mas contentou-se com a breve resposta. Pensou em um piscar de olhos de como iniciar a conversa sobre o sermão proferido pelo pastor no último culto, sem incomodá-lo em sua ida ao trabalho, e sem ofendê-lo, colocando em questão que não era a primeira vez que ouvia tal sermão por parte de sua autoridade eclesiástica, e que exatamente por ter ouvido este sermão por algumas vezes, o mesmo acabou fixando-se em sua mente.

— Sabe, gostaria de falar sobre o último sermão que o senhor discursou.

— Hum. Prossiga meu jovem.

 Vincent não sentiu muita boa vontade da parte do pastor em lhe ouvir naquele momento. Faltava naturalidade em sua expressão ao proferir as palavras que pediam para que o jovem desse continuidade ao seu relato. Vincent decidiu rapidamente que não seria uma boa hora para falar sobre o assunto com o pastor. O mesmo nunca havia parado para conversar de maneira mais prolongada com seu pai, que dirá com ele, e não seria desta vez que Alberto o faria, tendo em vista a sua situação para com o horário.

— Percebo que seria inconveniente de minha parte afortuná-lo neste momento com minhas questões frente o seu último sermão pastor. Deixemos para outra ocasião.

Atento para com a preocupação de Vincent, Alberto achou por bem marcar um horário com o rapaz para ouvi-lo. Alberto, apesar de sempre estar apressado e não dispor de muita atenção para com os chaveiros, sempre observou no garoto, apesar de tê-lo ouvido poucas vezes, um comportamento fora do comum. Das poucas vezes que Vincent se dirigiu a ele, foi de maneira diferenciada, sempre ponderando as palavras e tratando-o com um respeito admirável, coisa que Alberto não notava nos jovens de seu bairro, e, consequentemente, dos poucos que ainda frequentavam a sua congregação.

— Pois bem jovem chaveiro, que fique esta conversa para outro momento mais oportuno. Façamos um trato. O que achas de termos esta prosa em algum dia de culto, de preferência antes do mesmo? Tens por especial algum dia da semana? Um Sábado talvez.

Contentou-se Vincent com a proposta do pastor. Torcia, enquanto ele dizia, para que o mesmo não marcasse a tal prosa para a próxima Quarta, tendo em vista que o jovem gostaria muito de ficar em casa para acompanhar a rodada do campeonato nacional. Sendo assim, concordou que a próxima Quarta seria o dia ideal para a conversa. Haveria então apenas dois dias para que o chaveiro aprendiz estruturasse melhor a maneira como abordaria a questão frente Alberto.

A Segunda feira não custou muito a passar. Vincent, como de costume, foi direto do trabalho para a escola. Cursava o último ano do Ensino Médio em um colégio estadual. A pressão para que escolhesse o que iria cursar após o término desta fase de seus estudos era grande. Mais por parte de si mesmo do que de seu pai. Seu pai apenas lhe pressionava quando citava a pretensão que a mãe do garoto tinha em dar ao filho a chance de estudar medicina. Mas, o próprio Martinho não se preocupava muito com essa questão. Se o filho ganhasse dinheiro suficiente para sobreviver, ótimo. Na verdade Martinho ansiava por ver o filho fazer algo de importante, dando alguma notoriedade à família.  Vincent bem sabia disto. Percebia a ênfase que o pai dava ao contar o porquê recebeu o nome de Martinho e, consequentemente, o porquê deu a alcunha de Vincent ao garoto. Vincent ocupava-se em se preocupar com o amanhã. Haveria de conciliar de alguma maneira aquilo que seu pai almejava. Sabia que seu pai lhe desejava o melhor, o natural.

Pois bem, algo há de se dizer aqui, frente os fatos colocados anteriormente.  Vincent não se contentou só com a preocupação instintiva do pai em ver-lhe independente em um futuro próximo. Passou a preocupar-se também com o sonho do pai: fazer algo notório, que desse algum sentido a sua existência. Passou então a preocupar-se com a forma pela qual haveria de viver, deixando a preocupação para com a sobrevivência para algum outro momento, onde tivesse algum tempo sobrando para pensar sobre, assim como fez o pastor para com a sua prosa. Vincent já sabia com o que haveria de preocupar-se e juntamente com isso, também o que colocaria em questão na prosa marcada com Alberto. 

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