O silêncio que pairava sobre
Vincent no que dizia respeito a sua mãe, não se fazia sob a mesma proporção
para outras questões. Vincent sempre tentou ser ponderado em suas colocações e
indagações, apesar de serem muitas e difíceis de segurar. Vincent parecia não
levar muito jeito para a medicina. Também não levava muito jeito para a arte
futebolística, o que contentaria muito seu pai caso o garoto viesse a ser um
profissional do ramo.
- Pelo visto, nada que dê
dinheiro e prestígio me serve. A sorte que serve a poucos resolveu me deixar
junto com a multidão de anônimos como meu pai, meu avô e todos meus
antepassados – pensava com alguma frequência.
Não foi fácil para Vincent
escolher como primeira profissão ser ajudante de seu pai. Aprender a copiar
chaves não era lá algo muito original. Aprender a copiar o pai e o avô,
tampouco. Cópias, originalidade, mesmice e novidade. Palavras que sempre
acompanharam os pensamentos presentes e futuros de Vincent, desde que se
entendeu por gente.
Certo dia, em um dos poucos
cultos que frequentava com seu pai, o pastor dirigia empolgado o seu sermão
sobre escolhas. Usou um texto que era usualmente usado. As pregações do pastor
Alberto costumavam ser repetitivas.
- Ora, não se pode preparar
um discurso por dia. O ano tem 365 dias, e metade deles temos cultos em nossa
congregação, além das vezes que sou convidado a pregar fora dela. – costumava
ser a justificativa do pastor à sua esposa, já que a mesma sentia-se acanhada
quando seu marido proferia o mesmo sermão do mês retrasado em algum culto com
menos presentes.
Em mais um de seus usados
sermões, o pastor Alberto resolveu falar de um tema que gostava: preocupação
com o amanhã.
- Não devemos nos preocupar
com o amanhã. Deus há de prover tudo, como proveu aos seus escolhidos, desde os
tempos do patriarca Abraão até o crescimento da Igreja em Jerusalém e em toda a Judeia. Confiem Nele! Confiem Nele!
Esse tipo de mensagem chamava
a atenção de Vincent, tendo em vista que o mesmo sempre estava preocupado com a
preocupação que tinha com o dia seguinte. Preocupava-se por que seu mentor
espiritual exortava diante de centenas de pessoas que a preocupação com o dia
de amanhã para aqueles que são os escolhidos seria uma futilidade. Vincent
pensou bem sobre o caso e resolveu esperar o momento oportuno para pedir um
aconselhamento ao pastor sobre a sua preocupação com o “preocupar-se com o amanhã”.
E este momento como de costume chegou. Alguns dias após Vincent muito matutar,
eis que surgiu a oportunidade. O pastor Alberto, sempre apressado, resolveu
parar por alguns minutos na loja de Martinho e Vincent para esperar a chuva
passar. Ali estava uma excelente oportunidade para Vincent descobrir qual seria
a chave para a distração com relação ao amanhã. Acreditava que o pastor tinha a
solução, já que ele dizia sempre que isto era possível por meio da fé. Pois
bem, era a hora de Vincent comprovar se de fato o pastor tinha a fórmula mágica
para que tal fé fosse despertada em Vincent.
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