Essa era apenas uma das dúvidas
que Vincent suscitava com relação aos posicionamentos de seu pai frente
determinadas questões. Uma de muitas. Vincent fazia questão de ser o senhor das
dúvidas. A verdade era que Vincent
desejava ser o senhor de si mesmo. Mas, não podemos dizer que Vincent chegava a
ser arrogante, afinal de contas, todos nós queremos ser donos de nossos
próprios trajetos. Todas as dúvidas levantadas por Vincent, desde o
posicionamento que seu pai tinha diante de uma simples discussão futebolística
até as coisas mais complexas tinham no fundo um único intuito: a independência
da mesmice. Coisas de adolescente? Não se sabe. Vincent se um dia foi de fato
jovem, só ô fora na idade. Suas percepções e responsabilidades passavam longe
da condição de um efebo qualquer. Perceberemos logo um dos bons motivos para
tal precoce amadurecimento.
A bela e sofrida Rosa. Muito cedo deixou a
casa dos “Dos Santos” para possivelmente viver entre aqueles que, acaso
existissem, fossem os santos de verdade. Este era o nome da mãe de Vincent que
ele nem chegou a conhecer. Sua parição foi a causa da morte da mãe e também da
perda da sua mocidade. Sempre repousaram sob seus ombros a responsabilidade de
honrar as expectativas da família. Se não fora seu pai um agente direto da
mudança em sua pequena cidade, esperava-se que Vincent fosse a mudança ao menos
no seu quadro familiar. Tinha nome importante já por este intuito. Mas o
próprio Martinho já provara que mudanças não se fazem por epítetos.
Rosa não fora uma pessoa que
perspectivava sob o filho que carregava ideais revolucionários. Dizia que
ficaria muito contente se o filho ao menos se formasse. De preferência em
Medicina, profissão esta que segundo ela era nobre e dava bom retorno
financeiro. Mas, de fato, em uma família tão simples como a sua, esperar que um
filho se tornasse médico já seria, de fato, esperar dele uma grande revolução
frente seus ascendentes.
A escolha do nome do filho
veio unicamente do pai, e Rosa muito estranhara que Martinho quisesse extrair a
última letra de Vicente. Nunca entendeu bem o motivo que levara Martinho a
escolher tal alcunha a uma simples criança. Não via graça nem desgraça na
escolha. Apenas pensava ser tal opção do pai, coisa de gente pobre que quer ser
grande, como se pobreza fosse sinônimo de pequenez.
Rosa não vira o filho se
tornar grande desde pequeno. Martinho nunca contou muito ao filho sobre a mãe,
já que o homem não era de muitas palavras. Tornou-se um homem de ainda menos
prosa depois da viuvez precoce. Vincent também nunca especulou muito sobre o
caso. Ocupou-se unicamente em não importunar o pai com tais questões, já que o importunava com outras. Mas, com isto, descobriu logo cedo que, a cada manhã
que suas dúvidas sobre sua mãe eram silenciadas, quem se tornava importunada
era sua alma. O silêncio pode molestar a alma. E isto o jovem que se tornará
velho demais dia a dia, descobriu muito cedo.
Foi vc mesmo que escreveu, mano? Genial!
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