O restante da semana foi marcado
pela inquietação da espera pela conversa definida para o Sábado vindouro. Claro
que Vincent passou a ocupar-se de outros pensamentos e vivências, mas seu coração
estava na conversa que teria mais adiante. Martinho gostaria muito de saber o que
o garoto tanto gostaria de conversar com Alberto, mas decidiu inquietar a sua curiosidade.
Durante toda a semana, Vincent também havia de preocupar-se com algumas questões
do cotidiano. Era época de provas na escola. Os professores não eram lá muito exigentes,
mas Vincent também não o era para com os estudos. Não via sentido em ter que ler
e memorizar assuntos, textos, falas e datas que seriam inúteis logo em breve. Não
sentia alma em algo que tinha como principal valia, dar o respaldo necessário apenas
para se formar, ter um diploma, que o deixaria apto à ingressar no tal mercado de
trabalho. Alguns colegas de classe e também seu pai discordavam desta forma como
Vincent via as coisas.
Todos os dias, Vincent saía da
loja de seu pai apenas duas horas antes do horário de entrada da escola. Desde o
primeiro ano do Ensino médio estava no período noturno. Sentia-se mais maduro por
estudar a noite. Sentia que a maturidade florescia em boa parte de seus companheiros
de classe, justamente por lidarem com esta nova realidade, da conciliação do trabalho
diurno com os estudos noturnos. Estava no inicio do ano letivo, este que seria o
último. Não sentia em boa parte de seus colegas o mesmo peso da cobrança sobre o
que fazer após o término do ano. Parecia que boa parte deles se preocupava
com o que haveriam de cursar em uma faculdade, ou algo do tipo. O que era mais comum
era a gana pela luta do acúmulo. Por mínimo
que fosse, dispor de algum dinheiro era dispor de algum poder. Na verdade, estas preocupações estavam presentes em todos, desde a
infância, sem que eles percebessem isso com clareza, que já se preocupavam com o
poder, com o status, desde muito cedo, e também de que já não tinham mais infância,
também desde cedo.
Quando disse anteriormente que
Vincent nunca tivera infância, há de se levar em consideração duas coisas nisto.
Uma delas é que esta era uma característica comum de seus contemporâneos. Não só
dos que viviam na realidade simples de Vincent, que não poderia ter muita coisa
além do básico para a sobrevivência, mas também de muitos outros jovens que tinham
muito além do que precisavam para perpetuarem a sua existência. O que faz destes
diferentes tão similares é a responsabilidade em ter de ter. Adquirir, este era
o nome do brinquedo. Uns precisavam adquirir para se manterem vivos, e até mesmo
manterem outros. Sobrevivência era a palavra que necessitava deste brinquedo. Outros tinham de adquirir para viverem sobre. Sobre
eles e sobre os outros. Sobre viver, nada sabiam. Viver sobre, era a ordem que recebiam
da vida comum dos homens de sua época que os moldavam.
Mas, Vincent fora diferente.
Sentia de seu pai, das histórias que lhe contava, do algo notório que desejava do
filho, algum impulso acima da sobrevivência e do viver sobre. Sentia que era preciso
estar acima da média para passar longe da mediocridade. A questão era: a preocupação
com a sobrevivência para com o amanhã é tão tola quanto o é a preocupação para com
estes estudos, que não me darão muito mais do que a possibilidade de entrar no mercado
de trabalho, como assim dizem os mestres? Este tipo de pensamento, por si só, já
fazia de Vincent algo incomum nos seus dias. Pensou um pouco mais e achou por bem
conversar com alguém que vivesse o que ele vivia, de fato, antes de adentrar na duradoura
conversa com Alberto. A semana escolar foi marcada por este anseio, e Vincent ouvira
algumas coisas sobre, como veremos mais adiante.
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