Vincent costumava prestar a
atenção suficiente nas aulas ministradas em sua escola, com a finalidade de ter
em mente o básico para sua aprovação ao término do ano letivo. Sempre que
podia, acabava por arrumar algum tempo, no meio das aulas, para prosear com
seus colegas de classe. A sua frente costumava sentar-se Ivan. À sua direita,
Rômulo. À esquerda, William. E a única garota pertencente ao quarteto
filosófico do “meio de aula” era Sofia. Os amigos eram diferentes em diversos
aspectos, mas muito semelhantes na maioria deles. Vincent era tímido ao extremo
para com garotas, e dificilmente se dirigia à Sofia para pedir algum conselho
frente seus inúmeros pensamentos. Geralmente interagia com a garota apenas
rindo das colocações engraçadas da jovem em assuntos sobre o cotidiano. Sofia
gostava de ser sarcástica, e sabia que isso lhe dava alguma notoriedade entre
os garotos. Por sinal, ela tentava de todo o jeito que as garotas fizessem uso
do mesmo sarcasmo para com os companheiros de classe, a fim de valorizar a
participação feminina nos diálogos mais importantes.
— William. William.
— Diga Rômulo.
— Tens percebido o quanto
Vincent está pensativo nos últimos tempos?
— Ora Rômulo, Vincent sempre
foi assim. Nunca foi de falar demais e, quando fala, geralmente é para expor
suas dúvidas com relação à vida.
— Sim William, mas
ultimamente ele está ainda pior. Parece carregar sobre a sua mente um peso, uma
preocupação. Está com cara de cansado.
— Todos nós estamos
fadigados da escola e de termos que conciliar a mesma com nosso trabalho
durante o dia Rômulo. Vincent deve estar ainda mais preocupado por temer que
seu destino seja a rotina de seu pai, ou seja: viver a vida toda copiando
chaves, sem tirar a bunda do maldito banquinho do chaveiro. O único de nós que não parece nem um pouco
inquieto para com o futuro é Ivan, já que seu pai já lhe prometeu bancar o
curso que ele escolher para a faculdade. O resto de nós depende de alguns
milagres, além de muito esforço.
— Bom Will, estou preocupado
por que Vincent já sofre e se preocupa demais desde muito cedo, já que nunca
teve mãe.
— Sim Rômulo, eu sei disto.
Vamos tentar nos concentrar no texto proposto pelo professor para respondermos
às questões avaliativas e depois falamos melhor sobre.
William era o tipo de cara
que achava que tudo estava sempre normal. A normalidade era admirada por ele.
Problemas e soluções eram normais, e se os dois estavam presentes na vida de
alguém, era sinal de que esta vida provavelmente estava sendo bem vivida. Mas
de que tipo de problemas e soluções estamos falando? Preocupações e despreocupações.
O círculo vicioso da normalidade que William tanto admirava. Rômulo já se comportava
de maneira totalmente contrária. Era observador. Procurava qualquer sintoma de anormalidade
em um mundo normal demais para o seu gosto. Inquietava-se com o silêncio que se
estendia por muito tempo, mas também sentia incomodo nas palavras em excesso. A
anormalidade era perseguida por Rômulo. Os dois não costumavam cochichar pelas costas
de Vincent, já que o mesmo também parecia perseguir a anormalidade, e não acharia
muito natural que seus companheiros de classe estendessem uma longa prosa por suas
costas.
O fato de Vincent deixar passar por despercebido este diálogo já evidencia
o quanto sua mente estava longe. Para Rômulo, que continuava por perseguir a anormalidade
que havia nas ações de seu amigo, isto era de se estranhar. Para William, que adorava
ter tudo como natural, isto era propício ao momento que viviam e às características
de Vincent. Ousaríamos dizer que a perseguição pela anormalidade em nossas ações
é companheira dos amigos mais atentos aos nossos passos, por capricho ou por fruto
da boa árvore de uma verdadeira amizade? Rômulo e William podem intrigarmos ainda
mais quanto ao caso.
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