Cá
estou mais uma vez. Creio que não precisarei me desculpar mais pela falta de
comprometimento para com o tempo de espera que apresento a vocês, juntamente
com cada texto que apresento. Se vos apresento um texto hoje, já sabem que o
próximo tardará por vir. Infelizmente, nem só de textos vive um blogueiro.
Alguns afortunados até vivem.
Ironias
e desculpas a parte, gostaria de dar continuidade a série “Cristãos: uma espécie em extinção”, cuja última vez que escrevi
deixei por continuar com a temática da apresentação de João Crisóstomo e a
continuidade da reflexão proposta por Tolstoi frente o papel da igreja na
conscientização da sociedade ao longo dos tempos no que diz respeito a
resistência ao mal. Pois bem, demos continuidade então.
Tolstoi
não cita João Crisostomo em vão. O hoje considerado santo e grande homem nos
primórdios da igreja institucionalizada, talvez seja o principal responsável
pela inserção da arte da oratória nas reuniões entre os cristãos. A temática é
abordada de maneira complexa por Frank Viola na obra tão pouco trabalhada nas
faculdades e cursos de teologia pelos bonzos do cristianismo contemporâneo de
maneira complexa e de extrema relevância para aqueles que almejam compreender
os primórdios da religião cristã. Vale ressaltar que Viola trata o costume do
sermão como “A vaca sagrada do
protestantismo”, observando desde o início o papel relevante que tomou a
arte da oratória após o advento da Reforma no século XVI.
João
Crisóstomo tornou-se conhecido em seus dias por ter uma admirável habilidade
para discursar em público. Não é à toa que pessoas se exprimiam para ouvi-lo e
contemplar seus sermões em nome da fé. Crisóstomo teve grande influência dos
considerados “primeiros advogados do mundo”: os sofistas. Esta vertente filosófica nasceu na Grécia e começou a
crescer muito na Europa aproximadamente 500 a.C. , pregando o alcance da virtude
por meio das argumentações presentes em seus longos discursos. Crisóstomo, segundo
afirma Viola, foi aluno de um dos maiores sofistas de seu tempo, o famoso
Libanius.
Com
forte influencia da escola sofista e também da literatura pagã (ou romana),
Crisóstomo passou a ter muito mais espaço para dar seus sermões ao público dito
cristão, sendo muitas vezes interrompido pelos aplausos da multidão, que
admirava a habilidade que o mesmo tinha para proferir poesias, visando
impressionar a plateia. O poder da retórica grega era tão influente sobre as
pessoas, que certa vez, mesmo com Crisóstomo condenando os aplausos na “casa de
Deus”, o povo aplaudiu o seu sermão ao término deste.
Bom,
o que tudo isso tem a ver com os dias de hoje? Na verdade, para responder à
esta pergunta é preciso conhecer um pouco mais sobre os costumes da igreja
institucional contemporânea e a supervalorização que os mesmos dão à arte do
falar em público. Em muitos cursos teológicos 9senão em todos) a disciplina
conhecida como homilética tende a
enfatizar a importância da arte da oratória, deixando de lado a importância
devida à participação do todo nas reuniões entre os membros da ekklesia[1].
Gostaria
de continuar esta reflexão por meio destes fatos históricos mais adiante.
Paz,
sabedoria e inconformismo de espírito e mente a todos!
Apesar de demorar, sempre vale a pena quando vem o post! Aguardo continuação...
ResponderExcluirSem duvida, que, a habilidade da oratória foi um dos estopins que deflagrou a bomba na igreja organica, transformando-a na igreja institucional, pela "vaca sagrada do sermão" bem conduzido (nem sempre escrito no trilho da morte do ego), e "oportunizou" o dominio e ensino dos nikolaitas, escrito , em sua maioria, no trilho do ego do bom carater, tão nocivo quanto o mau. Ambos devem morrer.
ResponderExcluirfato! por isso não aplaudo quando alguém do púlpito pede, quando termino de cantar um cântico ou hino. As vezes o silêncio é muito mais bem recebido do que um milhão de aplausos.
ResponderExcluirObrigado pelo texto meu amigo!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirComo estávamos conversando no grupo,
ResponderExcluirquando um discurso inflamado ( a emoção), se associa a uma postura ( aqui falo de postura física mesmo, cênica), a um discurso de segurança (texto)- " eu te asseguro que Deus ta com você e vai ficar tudo bem se voce fizer isso... aí cai no terreno fertil que é uma vida difícil e sem estrutura emocional... resulta no que a gente ja conhece.
Cada vez mais vejo semelhanças entre os Sermões e um espetáculo teatral. A diferença é que procurei o teatro porque vejo no ator um educador (Psicator).
Muito bom o texto, quando conseguir terminar o que to tentando ver, vou atras dessa obra do Frank Viola