INTRODUÇÃO
A
segunda década do século XXI pode estar evidenciando características de uma
época própria, única, marcada por movimentos de ruptura política, cultural e
econômica em larga escala, proporcionando aos historiadores, sociólogos e
antropólogos do amanhã, um magno objeto de pesquisa para a compressão dos seus
dias, que a nós parece que se darão de forma conturbada. Em suma, somos o ponto
de mutação[1] do amanhã.
O
momento atual é, para muitos, o ápice da história da humanidade enquanto
sociedade organizada política e culturalmente falando, principalmente pelo
acesso que temos hoje às fontes de informação e facilidade em difundir as
mesmas. Tomemos aqui o seguinte exemplo comparativo: se no século XVIII,
Voltaire pôde concluir sua obra “Dicionário Filosófico” (uma espécie de
Wikipédia comentada de seus dias), em espaço de tempo de meses ou até anos[2], podemos supor que se o
mesmo autor se propusesse a escrever a mesma obra hoje, com certeza o produto
final seria muito mais complexo em informações e dados históricos, tendo o
autor maior facilidade ao buscar fontes de informação para o desenvolvimento de
seu trabalho, além de poder disseminar suas idéias e provocações por todo o
mundo, sem ter de depender da aprovação, incentivo ou patrocínio de qualquer
rei, instituição religiosa, Estado ou editora para tal, desde que o mesmo
tivesse uma conta no Twitter, uma página no Facebook ou um blog pessoal, o que
pode evidenciar que qualquer um de nós possa ser o Voltaire de nossa era,
contribuindo por meio da disseminação de idéias, à eclosão de qualquer
revolução, em qualquer esfera. E muitos assim de fato se vêem.
Segundo o IBGE, mais de 85 milhões de
brasileiros nadaram sob as águas do virtual em 2013, o que em cinco anos
representou um aumento extremamente significativo de mais de 50% de
mergulhadores em atividade constante. Vale lembrar que exatamente no ano de
2013, as ruas das principais capitais brasileiras foram tomadas por diversos
movimentos populares, com um número de reivindicações em suas pautas tão grande
quanto o número dos que saíram às ruas, que se organizaram e disseminaram seus
ideais por meio do ciberespaço.
À
luz destas observações, cabe a reflexão sobre nossa postura enquanto agentes
protagonistas do presente tempo histórico, onde somos formados e formamos as
tão expressivas opiniões. Temos anseio em expressá-las, pois arduamente
adquirimos tal direito e, conseqüentemente, visaremos o lucro do reconhecimento
de nosso trabalho em expor tais pressupostos coerentes por meio dos
comentários, curtidas e compartilhamentos que evidenciam quem são nossos comuns
e, por conseqüência, a unidade contra o incoerente e leviano réu: o inimigo
comum.
A
presente era da Mãe Polêmica e das irmãs Rupturas no que tange ao todo do
social, tem como carro chefe a religião e sua histórica influência sobre o
complexo de complexos do social. E é exatamente aqui que encontramos o cerne
daquilo que iremos desenvolver nestas próximas leituras. É aqui que surge o
termo farisaísmo.
O termo fariseu tem aparecido de maneira
constante em polêmicas que concernem ao espaço religioso e tem sido atribuído
principalmente aos que se reconhecem como propagadores de uma volta dos que não
foram, de um retorno que se faz urgente à uma moral que acreditam ser a ideal
sob o aspecto da vivência do social, que
defendem e classificam sobre o epíteto de “bons costumes”, que ao que parece à
alguns não passam de pilares da tradição que nunca deixaram de sustentar a casa
de maneira ineficaz, o que faz com que os que discordam desta reivindicação
denunciem essa postura paradoxal como farisaica. Sendo assim, faz-se necessária uma
reflexão sobre o conceito de fariseu. O que viria a ser este
termo que outorgamos a alguém? Seríamos dignos dele também? Há um fariseu “farinha
do mesmo saco”, que leva as crianças que fomos um dia a crescerem e se tornarem
adeptos do farisaísmo, em cada um de nós?
Nessa seqüência de textos sobre a presente
temática, gostaria de convidá-lo a me acompanhar nesta relevante busca, onde diversas obras,
textos e autores nos darão um belo meio de transporte para uma viagem às
origens, histórico da aplicação do termo e apropriação cultural deste ao longos
dos tempos, de maneira exaustiva, mas de forma farisaicamente prazerosa.
No mais, bem vindo ao constrangimento.
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